47. A vez em que uma loba dourada se preparou para a batalha

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O dia do eclipse finalmente havia chegado. Não tínhamos parado um minuto sequer ao longo daquela semana, ocupados com todos os preparativos, então não era exagero dizer que estávamos exaustos, ainda que a batalha final contra o Devorador de Sonhos sequer tivesse começado. Davi não havia mentido ao mencionar que o feitiço de purificação descoberto em seu grimório era bastante complexo. O problema principal era a duração daquela evocação; ele precisaria recitar uma série de preces intrincadas, respeitando uma ordem específica e com alguns intervalos de tempo entre elas. E, enquanto isso, lobos, panteras e vampiros teriam que garantir que a criatura permanecesse dentro do raio de alcance da magia do cernuno, para que tudo funcionasse como o desejado.

A solução encontrada foi a preparação de uma arena de batalha em um local isolado, no meio do pasto da fazenda. Lobos, panteras e indígenas trabalharam juntos ao longo da última semana para cavar ali uma cratera com o tamanho de um estádio de futebol. A intenção era fazer a serpente gigante descer até o fosso e concentrar a batalha dentro daquele espaço limitado. Sabíamos que, se a criatura tivesse livre movimentação, poderia conduzir a luta para dentro da reserva, o que tornaria muito mais difícil o sucesso da nossa operação.

Pouco antes do pôr-do-sol, Anne chegou acompanhada de sua tropa, composta por quarenta panteras adultas, as mais fortes e mais experientes em combate, dentre elas, Bárbara. O grupo de felinos realizou sua metamorfose e se juntou aos lobos da minha alcateia, que já esperavam dentro do fosso. Do nosso lado, havíamos reunido cerca de oitenta lobos, prontos para a batalha. Em uma das extremidades da arena, no lado mais distante em relação à reserva florestal, havíamos construído um grande altar circular, elevado, para a Deusa e o Deus, segundo as instruções de Davi. Sobre ele, estava posicionado o corpo de Inara e a arma sagrada confeccionada pelo Pajé. Essa arma era um arco revestido com o couro do Devorador de Sonhos, tal qual Inara instruíra durante a viagem astral que meu amigo cernuno fizera para encontrá-la. Também em cima daquele elevado havia uma estante, para que Davi pudesse apoiar o seu grimório durante a execução do feitiço. Por estar em um local mais alto, ele teria uma visão privilegiada da batalha que seria travada diante de si e poderia verificar a posição da criatura com facilidade.

Havíamos definido que lobos e panteras seriam responsáveis pela linha de frente do combate. Na retaguarda, ficariam os vampiros, prontos para fazerem investidas aéreas, caso necessário. Por fim, como uma última linha de defesa ao redor do altar, estariam posicionados dez guerreiros da aldeia de Inara, montados a cavalo e equipados com arcos e flechas, sob o comando do Pajé. Eu e Ian também ficaríamos ali por perto, para dar suporte a Davi em qualquer coisa que viesse a ser necessária, já que ainda não podíamos usar nossos poderes e não seríamos úteis sem eles no campo de batalha.

Assim que o sol desapareceu e a escuridão da noite tomou conta do espaço por completo, o Pajé, juntamente com seus guerreiros, cavalgaram ao redor do fosso acendendo tochas, para garantir que o espaço permanecesse iluminado ao longo da noite. Pouco depois, chegaram Leo, Tatianna e os outros oito vampiros da equipe do Lacrimosa, que se posicionaram espalhados ao longo das margens da arena. Para minha surpresa, vi chegar, também, alguém que eu não imaginaria ver ali naquela noite.

— Poliana? O que você tá fazendo aqui?? — perguntei, preocupada.

— Não tinha como eu ficar em casa sem saber o que tava acontecendo — ela se justificou. — Prometo que não vou atrapalhar.

— Você sabe que tá arriscando a sua vida aparecendo aqui, não sabe? — insisti. — E não posso garantir que vai ter alguém pra te proteger caso as coisas saiam do controle!

— Não se preocupe, eu assumo a responsabilidade — ela garantiu. — Façam de conta que eu não estou aqui.

— Ok, você é quem sabe — respondi. — Fique perto do Davi então, caso ele precise de alguma coisa.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora