Epílogo

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Coloquei Leo deitado no banco de trás do veículo e abri o porta-luvas refrigerado, tirando de lá uma bolsa de sangue e a entregando para que o vampiro se alimentasse. Logo estávamos na rodovia, em alta velocidade, nos dirigindo ao Lacrimosa. Os demais vampiros da equipe de Leo estavam todos lá e certamente saberiam o que fazer para salvar a vida dele. Enquanto conduzia o carro, não tirava os olhos do retrovisor, temendo ver um dos veículos da Caçada Voraz me perseguindo. Até o momento, eles não tinham aparecido, mas eu sabia que era apenas uma questão de tempo até virem nos procurar no clube.

Antes que me esquecesse, tirei meu celular do bolso e liguei para minha tia, colocando no viva-voz.

— Querido, que bom que você ligou! — ela disse, aliviada, tão logo atendeu. — Você está bem? Deu tudo certo? Vocês conseguiram se livrar daquele monstro?

— Eu tô inteiro tia, e sim, a gente derrotou o Devorador de Sonhos — respondi, com a voz embargada. — Mas as coisas não terminaram nada bem. Os lobos declararam guerra aos vampiros e eu acho que tô em perigo, no meio de toda essa confusão... Eu tô fugindo, tia, tô indo embora de Esmeraldina...

— Mas pra onde você vai, Davi?? — ela quis saber, desesperada com aquelas notícias de última hora.

— Eu tô voltando pra minha casa, na capital, vou ligar pro Alfredo, ele tem mais condições de me proteger — expliquei. — Mas eu preciso garantir que você também fique bem! Eu conheci a Eleonora, irmã da Poliana, ela é uma pessoa boa e disse que pode te defender, se você decidir ficar aí, em Esmeraldina... Ou então pode vir morar comigo na capital, se achar melhor...

Esperei agoniado pela resposta de tia Laura, mas ela nunca veio. Olhei para o telefone, para me certificar de que a chamada ainda estava em andamento, mas ela logo caiu. Tentei ligar outras vezes, mas, estranhamente, minha tia não atendeu. Alguma coisa tinha acontecido na pousada, com toda certeza, mas, infelizmente, não havia nada que eu pudesse fazer a respeito naquele momento.

Estava tão preocupado com tia Laura que quase não reparei na fumaça preta que subia aos céus, mais adiante. Foi apenas quando me aproximei do Lacrimosa que eu tive uma noção clara do que acontecia. O clube estava completamente destruído e pegando fogo. Não precisava refletir muito para saber que aquilo fora obra dos lobos da Caçada Voraz. Muito provavelmente eles armaram uma emboscada enquanto todos os vampiros estavam fora do clube, ocupados na batalha contra o Devorador de Sonhos, pegando-os de surpresa quando os morcegos retornaram pela manhã, exaustos após o combate. E, agora, certamente os homens de Leo deviam estar todos mortos, debaixo daqueles escombros.

Olhei para trás e reparei que Leo tinha se apoiado em uma das portas traseiras do carro, para beber o sangue com mais facilidade. A posição em que o vampiro estava permitia que ele visse pela janela do veículo o seu clube em chamas. Meu coração se partiu assim que eu percebi as lágrimas de sangue que escorriam dos olhos do vampiro. E aquilo me deu uma nova motivação para continuar. Eu precisava garantir que ele escapasse dali com vida. Todas as desgraças causadas por aqueles lobos não podiam ficar impunes, de maneira alguma.


***


Continuei concentrado, dirigindo pela rodovia, rumo à capital, parando apenas de tempos em tempos para checar o estado de Leo e oferecer a ele uma nova bolsa de sangue. Talvez por culpa do meu terrível estado emocional, ou talvez simplesmente por não estar acostumado com um carro diferente, eu cometi uma grande burrada. Eu deixei que ficássemos sem combustível, no meio do nada, onde sequer havia sinal de telefone.

— Burro, burro, burro! — xinguei, inconformado, enquanto socava o volante.

— Esconder... — balbuciou Leo, ao entender o que acontecia. — Precisamos...

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora