30. A vez em que um jovem órfão pressentiu a investida de um inimigo

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O clima na sala de estar era o pior possível. Tínhamos acabado de concluir que a cidade de Esmeraldina estava sob a ameaça de uma nova criatura desconhecida e, não bastasse isso, os representantes da Caçada Voraz tinham jogado para os pais de Ian e Maia a responsabilidade de resolver o problema. E com um prazo de duas semanas para isso.

— Não há dúvidas de que, independentemente de vocês estarem aqui ou não, nós agiríamos de qualquer forma pra investigar essa ameaça — declarou Augusto, visivelmente incomodado. — No entanto, me surpreende essa postura de vocês, de negar ajuda num momento como esses, mesmo possuindo bem mais recursos do que nós — ele apontou, incisivo.

— Eu não disse que não vamos ajudar — rebateu Hector. — Nesse primeiro momento, vamos apenas observar como vocês se viram sozinhos. Mas, é óbvio, se a situação sair do controle, nós vamos intervir imediatamente. Não somos irresponsáveis.

— Desculpem-me, mas eu não estou nada interessado nessas disputas de vocês — Leo interrompeu. — Estou mais preocupado com o meu grupo. Eu comprei um terreno fora da cidade, bem longe de territórios ocupados por outras criaturas sobrenaturais, investi dinheiro e comecei um negócio honestamente, sem prejudicar a ninguém. E, ainda assim, fui covardemente atacado. Por essa razão, não vou descansar enquanto não encontrar o responsável por isso e não vou ficar esperando vocês resolverem essas picuinhas de lobos. Quem quiser se juntar a mim, que venha, mas não irei esperar mais — concluiu o vampiro.

— Calma, rapaz, fomos todos pegos de surpresa aqui — justificou-se o pai de Ian. — Mas, se você estiver realmente disposto a unir forças, nós também estamos abertos a isso — completou ele, surpreendendo a todos nós.

— Você vai mesmo querer trabalhar com vampiros, Augusto??? — Helena questionou, incrédula. — Você conhece a reputação dessas criaturas, nós vamos realmente abrir as portas do nosso território pra eles?

— Tempos difíceis pedem por medidas extraordinárias — Augusto rebateu. — Acho que lobos e vampiros têm os mesmos interesses nessa situação específica e estamos correndo contra o tempo. Não podemos recusar uma ajuda dessas quando o nosso futuro como líderes da alcateia depende disso...

— Não vou me opor a essa decisão — informou Helena, contrariada. — Mas espero que você esteja disposto a lidar com as consequências caso essa parceria dê errado no meio do caminho...

— Eu já disse isso e volto a repetir — Leo interrompeu. — Não tenho nada contra os lobos, nunca tive. Nem sequer me interesso por essas terras de vocês, no meio do nada e num fim de mundo como esses. A propriedade que eu comprei já está de bom tamanho pra mim. Só quero poder seguir com os meus negócios em paz, sem me preocupar com a possibilidade do meu clube ser atacado novamente ou de eu perder mais um de meus funcionários.

Eu estava concentrado, acompanhando a discussão que acontecia diante de mim, quando aquela já familiar sensação começou outra vez, sem avisos. Primeiro, foi minha pele, que se arrepiou completamente. Depois, um sentimento desesperador de vulnerabilidade. Por último, uma dor de cabeça lancinante, que me atingiu de uma vez só.

— ELA TÁ AQUI!!! — gritei, me contorcendo de dor e chamando a atenção de todos para mim. — A criatura tá aqui perto e está pronta pra atacar!!!

Antes que pudéssemos fazer qualquer coisa, porém, ouvimos o som alto de uma explosão. Estava acontecendo de novo, um ataque surpresa, tal qual no clube de Leo. Corremos todos para o lado de fora da casa e pudemos ver um dos galpões da fazenda, onde eram armazenadas as rações e outras ferramentas, ser consumido por chamas de cor púrpura, enquanto alguns animais corriam desesperados.

— Tatianna, vamos, agora, antes que ela fuja! — ordenou Leo à sua aliada. Logo eles saíram correndo em alta velocidade e desapareceram na direção do galpão em chamas.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora