8. A vez em que uma loba dourada buscou abrigo em um local inesperado

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Estava ansiosa enquanto aguardava liberarem minha entrada naquela já familiar guarita de madeira. Logo fui autorizada a seguir adiante e, em segundos, estava encarando a porta que me separava do meu destino. Toquei a campainha e respirei fundo, sentindo meu coração acelerar.

— Maia, como você tá? — ela perguntou, preocupada ao me ver. — Entra, por favor!

— Obrigada por me receber assim do nada, Bárbara — agradeci. — Eu apenas não ia conseguir passar mais um minuto sequer na minha casa...

— Não se preocupe, você fez bem em vir — ela me tranquilizou.

— O Davi ainda tá por aqui? — eu quis saber, assim que minha amiga fechou a porta atrás de nós.

— Não, ele chamou um táxi e foi embora depois que eu cheguei e contei como o julgamento tinha terminado. Provavelmente deve ter ido correndo pra casa, pra tentar conversar com o Ian pelo telefone...

— Sem dúvidas meu irmão vai ter bastante coisa pra contar... — comentei, ainda preocupada com a briga que eu presenciara horas atrás, entre ele e minha mãe.

— Você já jantou? — Bárbara perguntou, mudando de assunto.

— Não, nem tive tempo... Mas estou sem fome...

— Nada disso, você precisa comer algo — ela insistiu. — Vai lá pro meu quarto e relaxa um pouco, que eu vou preparar uns sanduíches e já te encontro.

Apenas assenti e fiz como ela disse, já que não tinha mais energias para discutir. Era apenas a segunda vez que eu vinha até aquele local, mas, de alguma forma, eu me sentia estranhamente acolhida ali, junto com Bárbara. Quando tive vontade de sair um pouco da fazenda, minutos atrás, cheguei a cogitar ir até a casa de Inara, mas, depois da maneira estranha como ela e o Pajé haviam saído do julgamento, fiquei em dúvida se aquele seria mesmo um bom momento para fazer uma visita. Ao pensar nas minhas demais alternativas, o nome de Bárbara foi o primeiro que veio à minha cabeça, me motivando a fazer o telefonema sem nem pensar. Pelo visto, aquela tinha sido uma decisão acertada.

— Aconteceu mais alguma coisa depois do julgamento? — Bárbara quis saber, entregando-me uma bandeja com sanduíches e suco.

Aproveitei a deixa e desabafei sobre tudo o que havia acontecido com a minha família, o desentendimento entre minha mãe e Ian, a decisão dele de ir embora da fazenda, o incômodo de usar a coleira de prata e dividir a casa com os membros da Caçada Voraz... Quando dei por mim, já estava aos prantos mais uma vez. Bárbara me fez deitar no seu colo e ficou me acalmando, fazendo carinho nos meus cabelos. Aquela era uma sensação boa, então apenas fiquei ali, me permitindo ser acolhida e liberando toda aquela dor que trazia no peito. Não demorou muito, no entanto, para que eu acabasse pegando no sono, vencida pelo cansaço.


***


Despertei com a luz do sol que entrava pela janela do quarto. Acordei confusa, sem saber onde estava, mas logo minhas lembranças retornaram e entendi que eu havia dormido na cama de Bárbara. Olhei ao meu redor, mas não havia nem sinal da minha colega. Levantei-me e fui até o banheiro anexo ao quarto. Minha cara estava péssima, com os olhos inchados, a pele marcada pelo lençol e o cabelo todo desgrenhado. Joguei bastante água gelada no rosto e ajeitei meus cachos com os dedos da melhor forma que consegui. Não pude deixar de reparar, porém, no horripilante objeto prateado que rodeava o meu pescoço, e agradeci o fato do Véu de Esmeraldina ser poderoso o suficiente para escondê-lo dos olhos dos humanos normais e me livrar de dar mais explicações sobre ele.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora