35. A vez em que uma loba dourada identificou uma possível conspiração

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Andei depressa em direção ao meu carro, pronta para voltar à fazenda o mais rápido possível. Precisava comer alguma coisa e tomar um bom banho antes de seguir até o Lacrimosa e encontrar meus amigos, para finalmente tomarmos conhecimento das descobertas de Benjamin. Estava prestes a dar partida quando a porta do passageiro se abriu e uma presença indesejada se sentou ao meu lado.

— Desce do meu carro, por favor — eu ordenei, com os dentes cerrados, tentando controlar minha raiva.

— Estamos indo para o mesmo lugar, vai mesmo negar uma carona pra sua mãe? — ela perguntou, se fazendo de vítima.

— Você veio com o meu pai, então volte com ele — retruquei. — Ou nem pra motorista ele serve mais?

Ela ignorou meu último comentário e apenas afivelou o cinto de segurança.

— Você pode continuar me ignorando, mas sabe que uma hora teremos que conversar sobre o que você viu ontem, no quarto do Hector — ela argumentou.

Apenas dei de ombros, sem forças para discutir, e coloquei o carro em movimento, me perguntando de que maneira ela tentaria justificar o ato de infidelidade que eu havia flagrado.

— Eu vou me divorciar do seu pai — ela anunciou, sem emoção, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— E não poderia esperar por isso antes de sair se atirando em cima do primeiro homem que aparecesse na sua frente?

— Você poderia tentar entender meus motivos antes de sair tacando pedras — ela me repreendeu, séria.

— Sou toda ouvidos — provoquei. — Não é como se eu tivesse escolha de qualquer forma.

— A verdade é que seu pai e eu estávamos nos desentendendo desde a época em que surgiram os primeiros animais mortos na reserva, logo depois do Ian ter feito o ritual de transformação. O nosso trabalho como líderes da alcateia acabou afetando o nosso relacionamento, isso é um fato. O Augusto tem uma visão muito diferente da minha no que diz respeito a como conduzir nossa comunidade... Eu amo seu pai, não me entenda mal, mas às vezes sinto que ele é complacente demais, principalmente quando é preciso tomar decisões controversas... Ele sempre prefere adotar uma postura mais passiva, tentando agradar a todo mundo, mas eu não sou assim... Eu prefiro tomar atitudes preventivas, mesmo que elas sejam polêmicas, ao invés de esperar o problema cair no meu colo — ela desabafou.

Nunca foi segredo para mim e meus irmãos o quanto o temperamento dos nossos pais era bem diferente, mas acreditávamos, até então, que era justamente aquilo que trazia harmonia para o relacionamento dos dois, já que um equilibrava os excessos do outro.

— Daí aconteceu toda a situação da Flor Cadáver, depois o julgamento dos lobos, e essas diferenças entre nós só se tornaram ainda mais evidentes — minha mãe continuou. — Você pode até não concordar comigo, mas eu nunca abriria a porta da nossa casa para um vampiro ou aceitaria baixar minha cabeça para as panteras de livre e espontânea vontade...

— Então por que concordou com tudo isso mesmo assim?? — questionei, incomodada.

— Simplesmente porque não aguento mais discutir e não vejo a hora disso tudo terminar — ela admitiu, com um suspiro. — Seu pai já está ciente da minha decisão de me separar dele. Só quero que consigamos passar por essa avaliação da Caçada Voraz de uma vez para podermos dar um rumo às nossas vidas individualmente depois disso, sem ressentimentos.

— Pra que se sujeitar a tudo o que estamos fazendo então, já que está tão insatisfeita com seu casamento e com seu cargo na alcateia? — eu quis saber, inconformada.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora