27. A vez em que uma loba dourada tomou conhecimento de tradições ancestrais

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Apesar da disposição de Leocaster em nos ajudar a resolver toda a avalanche de problemas que tínhamos em nossas mãos, eu não saía do Lacrimosa naquela noite menos preocupada do que quando entrei ali. Podia até soar como uma esperança infantil, mas eu de fato acreditara que o vampiro pudesse ter algum tipo de solução mágica, que trouxesse novamente um pouco de ordem para o caos que havia se implantado em nossas vidas. Foi assim da última vez, não foi? Ele veio até nós, explicou o que era a Flor Cadáver e nos disse como derrota-la; e tudo o que tivemos que fazer foi seguir suas instruções, sem discutir. Infelizmente, agora, o que tínhamos eram apenas palpites, e nada de concreto havia sido definido naquela reunião, mesmo com a ajuda do príncipe morcego.

Para piorar a minha situação, meu queridíssimo amigo cabelo de maionese ainda me fizera o favor de decidir ficar um pouco mais na inauguração do clube, o que significava que eu teria que voltar sozinha com Bárbara no carro. O clima entre nós continuava bastante desconfortável depois do fora que ela me dera, e eu simplesmente não fazia ideia de como seria capaz de manter uma conversa agradável durante todo o trajeto entre o Lacrimosa e a comunidade das panteras, onde eu a deixaria antes de voltar para a fazenda.

Ian saiu depressa antes de nós e nem sequer se despediu. Era difícil ver meu irmão agindo daquela forma e não saber como ajudar. Sim, a coleira de prata estava exercendo um efeito negativo sobre ele, eu não negava isso, mas era notável para todos nós que aquele dispositivo estava apenas potencializando uma série de questões mal resolvidas que já existiam antes mesmo do castigo ser imposto. Ian precisava urgentemente aprender a lidar com sua insegurança e com seu ciúme excessivo, antes que aquilo prejudicasse seu relacionamento com Davi de uma maneira irreparável.

— Vocês desejam mais alguma coisa antes de partir? Um drink, um aperitivo?

Aquela pergunta me fez voltar à realidade e notar que Tatianna estava diante de nós mais uma vez, do lado de fora do camarote.

— Não, não, não se preocupe, estou satisfeita — respondi rapidamente. Bárbara apenas fez um sinal com a cabeça, indicando à vampira que ela também não queria mais nada.

— Certo, irei acompanha-las até o estacionamento, para garantir que saiam daqui em segurança — informou a moça.

Apenas assentimos e seguimos Tatianna pelo interior do clube, até finalmente chegarmos ao local onde havia deixado meu carro estacionado.

— Foi um prazer conhece-las — disse a atendente, ao se despedir. — Ficaria honrada caso aceitassem meu convite e retornassem ao clube em outra oportunidade. Avisem-me com antecedência e deixarei o camarote preparado. Aqui está o meu cartão — completou ela, me entregando suas informações de contato impressas em um papel preto aveludado. — Pode me procurar se precisar de alguma coisa. Qualquer coisa.

Assim que disse aquilo, Tatianna se aproximou de mim e me deu um beijo no rosto, me pegando desprevenida. Depois, apenas sorriu e se afastou, ignorando Bárbara por completo.

— Pelo visto você arranjou uma nova admiradora — comentou minha amiga, com sarcasmo, deixando transparecer uma leve irritação em sua voz, muito provavelmente causada pela cena que havia presenciado.

— Acho que já estou satisfeita com apenas um vampiro em minha vida — desconversei, procurando não insistir naquele assunto. No entanto, fiz questão de guardar o cartão de Tatianna em minha bolsa. Preferia deixar aquela porta aberta por agora, por mais que ainda não tivesse a coragem de atravessá-la. Isso podia mudar futuramente, no entanto; só o tempo seria capaz de dizer.


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O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora