Para meu alívio, Fred se manteve em silêncio no caminho de volta até Esmeraldina e apenas falou comigo para me dar uma caixa de lenços de papel, que ele mantinha no porta-luvas do carro. Aceitei de bom grado e utilizei os lenços para tentar me recompor, mas as lágrimas insistiam em cair, apesar dos meus esforços.
Nunca pensei que pudesse me machucar tão intensamente em questão de segundos, mas a fatídica imagem continuava lá, gravada na minha mente. Ian e Caio, juntos, se agarrando, com bastante intimidade. Aquela certamente não era a primeira vez, era? O tal lobo não tinha desgrudado de Ian desde que Benjamin partira e, quanto mais eu pensava em tudo o que vinha acontecendo, mais me sentia um otário. Não era à toa que eu não tinha ido com a cara daquele garoto! Minha intuição nunca me deixava na mão, já passara da hora de eu entender aquilo e começar a ouvi-la, sem duvidar, mesmo que eu não gostasse das coisas que ela estivesse me dizendo.
— Tem alguma coisa que eu possa fazer por você? — Fred perguntou, me fazendo voltar à realidade. Só então reparei que o carro estava parado e já estávamos em frente à pousada.
— Eu realmente não sei — admiti, perdido. — Nunca passei por isso antes. Não sei o que fazer. Tenho vontade de entrar e me trancar no meu quarto, mas sei que não vai demorar muito pra minha tia e os meus amigos aparecerem, tentando me consolar. Não tenho forças pra lidar com ninguém agora, mas, ao mesmo tempo, não quero ficar sozinho... Eu... Desculpa, eu tô uma bagunça, nada do que eu tô falando tá fazendo sentido...
— Relaxa, Davi, você sofreu uma grande decepção, é normal se sentir confuso — meu colega me confortou. — Se quiser, eu posso ficar mais um pouco conversando com você aqui no carro. Só não posso demorar muito mais, porque preciso ir pra reserva mais tarde.
— Você vai fazer o que lá? — perguntei. — Já conseguiu fechar aquele grupo de turistas que você mencionou?
— Sim, consegui, mas ainda não vou leva-los comigo — Fred explicou. — Eu vou sozinho, primeiro, pra verificar o trecho que pretendo explorar com eles e colocar algumas marcações de segurança. Preciso fazer isso esse fim de semana e deixar tudo no jeito
Assim que ele disse aquilo, rapidamente uma ideia passou pela minha cabeça.
— Eu posso ir junto? — pedi, sem pensar duas vezes. — Prometo não atrapalhar!
— Não sei, Davi... — ele respondeu, meio sem graça. — Eu não vou poder te dar muita atenção, tem muito serviço a ser feito... Se você não se importar de ficar sozinho na torre de observação enquanto eu estiver fora...
— Eu não me importo — me apressei em dizer. — Só preciso ficar longe de Esmeraldina um pouco, colocar a cabeça no lugar... Talvez esse passeio ajude!
— Você tem certeza? Lá não tem sinal de celular, nem eletricidade... Eu vou ficar o final de semana inteiro na reserva, só volto na segunda pela manhã. Depois que a gente for, eu não vou poder parar pra te trazer de volta, caso você mude de ideia no meio do caminho — ele fez questão de pontuar.
— Não se preocupa, eu prometo que não dou trabalho! — assegurei. — Eu posso ir com você agora mesmo, durmo na sua casa, se você não se importar, e partimos no horário que você achar melhor...
— Bom, se é assim, vai arrumar suas coisas então... — Fred finalmente concordou, depois de ponderar por alguns segundos. — Roupas leves e confortáveis, protetor solar, repelente, cantil de água, esse é o básico. Traga traje de banho e alguns livros também, pra garantir que você vai ter o que fazer enquanto eu estiver fora, na mata. Não se preocupe com comida, eu tenho bastante coisa estocada pra esse tipo de ocasião.
Apenas assenti e desci do carro rapidamente, disposto a organizar minhas coisas sem perder tempo e sair de Esmeraldina o quanto antes. Arrumei minha mochila com os itens que Fred tinha recomendado; aproveitei e coloquei também meu grimório, já que tempo é o que não me faltaria e eu ainda precisava terminar de aprender o Perennis Requiem. Por fim, chamei Órion e o fiz se enrolar ao redor da minha cintura, já que seria bom ter uma companhia a mais enquanto meu colega estivesse fora, na mata. A única coisa que dei falta foi o botão do pânico que Alfredo me dera, mas ele infelizmente ficara com Maia, junto com as chaves do meu carro. No entanto, dessa vez eu estaria com Fred, então imaginava que o dispositivo não seria necessário. Antes de sair, deixei um bilhete explicando tudo para minha tia, na recepção, mas ligaria para a pousada antes de deixarmos Esmeraldina, logo cedo, para me certificar de que ela não ficaria preocupada comigo.
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O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)
Fantasy[Livro 2 da série "O Clube da Lua"] Depois de unirem suas habilidades e colocarem um fim à ameaça da Flor Cadáver, Davi, Ian, Maia e os demais membros do Clube da Lua finalmente poderão ter um momento de descanso e aproveitar o status de heróis da c...