10. A vez em que uma loba dourada pagou um alto preço por sua omissão

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Benjamin ainda encarava, atônito, os membros do conselho à sua frente, na mesa de jantar. Aquela revelação havia pegado a todos nós de surpresa, mas ele, sem dúvidas, era o principal afetado.

— Me desculpe, Hector, mas esse convite já havia sido feito a mim alguns anos atrás e eu o recusei. Mais de uma vez, inclusive — Ben pontuou, de maneira cuidadosa.

— Sim, eu sei disso — respondeu o Grande Lobo. — Mas aqueles eram outros tempos. De acordo com o que foi me passado, quando o último convite foi feito, você tinha acabado de se casar com uma humana e também tinha passado num concurso para professor numa universidade federal... Realmente não era o momento mais adequado para a Caçada Voraz passar a fazer parte da sua vida.

— Meus motivos para recusar o cargo não eram temporários — Benjamin insistiu, dessa vez um pouco mais incisivo em suas palavras. — Eu optei conscientemente por passar a minha vida ao lado da minha esposa, aqui, trabalhando na universidade e cuidando da nossa filha. E esses planos ainda não mudaram.

A atmosfera na sala de jantar, que até aquele momento tinha sido tolerável, rapidamente se transformou, e agora era a tensão que se fazia visível em todos nós, explícita no semblante de cada um que ali estava.

— Eu não sei se você prestou bastante atenção às minhas palavras — Hector respondeu, em um tom mais sério. — Dessa vez nós não estamos fazendo um mero convite. Isso é uma convocação oficial, e você, como lobo, sabe que tem a obrigação de obedecer a um chamado da Caçada Voraz.

— Mas por qual motivo esse assunto foi colocado de novo em discussão, justo agora? — minha mãe interrompeu, expondo uma dúvida que provavelmente passava na cabeça de todos da nossa família.

— Torno a repetir, aqueles eram outros tempos — insistiu Hector. — A situação toda mudou de figura e as habilidades de Benjamin se fazem extremamente necessárias nesse momento. Não há nenhum outro lobo no nosso time que tenha as mesmas qualificações que ele.

— Como assim "a situação mudou"? — meu pai perguntou, preocupado. — Tem mais alguma coisa acontecendo que você ainda não nos disse?

— Como sempre, muito perspicaz, Augusto — Hector brincou. — Sim, tem algo mais acontecendo — ele confirmou. — Eu não mencionei isso no julgamento porque essa informação ainda precisa ser mantida em sigilo, mas o relatório que o Conrado leu naquele dia, na arena, não listava todas as coisas que descobrimos enquanto investigávamos o caso da Flor Cadáver.

A simples menção ao nome daquela criatura fez um arrepio percorrer a minha espinha. Olhei para Ian, ao meu lado, e percebi que ele estava tão preocupado quanto eu.

— Nós também encontramos um estranho objeto na reserva, enterrado próximo à casa do líder dos Pétalas Vermelhas, o tal Roberto — Hector revelou, enquanto todos mantínhamos nossos olhares fixos nele.

— E que objeto seria esse? — Benjamin perguntou, subitamente intrigado.

— Não sei como descrever adequadamente usando apenas palavras, mas era algum tipo de recipiente muito antigo, algo como um vaso ou uma ânfora — relatou o Grande Lobo. — Havia um resquício muito forte da magia da criatura impregnada em todo esse objeto, a mesma energia que encontramos nas sementes distribuídas por aquele culto dos híbridos. Acreditamos que seja algum tipo de receptáculo, que provavelmente servia para manter a criatura presa — completou ele.

— De certa forma, isso se encaixa com o depoimento dos meninos — meu pai pontuou, se referindo a nós, do Clube da Lua. — Segundo o relato deles, o Roberto disse mesmo que encontrou a criatura ainda muito debilitada, na floresta, no trecho próximo à onde ele morava, não foi isso, meus filhos?

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora