5. A vez em que uma loba dourada viu os fatos serem colocados sobre a mesa

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Não havia palavras para descrever o quão incrédula eu estava com a presença de Poliana ali, na fazenda, em meio aos lobos. Nós tínhamos consciência de que parte da insanidade demonstrada pela ruiva durante o acampamento de carnaval era obra da semente da Flor Cadáver que ela havia consumido, mas, mesmo assim, não havíamos nos esquecido que a garota já vinha aprontando há muito mais tempo, como quando tentou seduzir Ian para receber a marca dos lobos ou então quando espalhou cartazes homofóbicos na escola com a intenção de desmoralizar Davi.

Depois da partida de Paulo de Esmeraldina e da dissolução do culto dos Pétalas Vermelhas, Poliana havia adotado uma postura discreta e reservada no colégio, muito diferente de como costumava se comportar antes de todo o episódio no acampamento. Apesar de ainda estudarmos na mesma sala, ela praticamente não nos dirigia a palavra e continuávamos convivendo daquela forma desde então, diplomaticamente, cada qual no seu canto e respeitando o espaço uma da outra. Foi inclusive por esse motivo que sequer passou pela minha cabeça considera-la como uma possível testemunha. Entretanto, o conselho parecia ter uma opinião diferente e, agora, a problemática garota ruiva fora trazida até ali, diante de nós.

— Obrigada — Poliana agradeceu cordialmente, após Hector afastar a poltrona para que ela se sentasse.

— Senhorita Poliana, gostaria que você começasse dizendo qual é a sua relação com os acusados — pediu Lavínia.

— Eu conheci o Ian e a Maia na escola... Estudamos juntos desde que eles se mudaram para Esmeraldina, muitos anos atrás — ela explicou.

— Então é correto afirmar que vocês são amigos? — questionou Lavínia.

— Não exatamente... — Poliana respondeu, levemente constrangida. — Eu tentei me envolver amorosamente com o Ian, mas acabou não rolando nada entre a gente, apesar da minha insistência. Fiquei chateada quando ele começou a sair com o Davi, e isso acabou gerando atrito entre nós, então não, não posso dizer que éramos amigos...

Poliana estava sendo sincera até aquele momento, mas eu continuava apreensiva. Ainda não tinha entendido quais as intenções da garota ao aceitar o convite para aparecer ali, e tinha medo do que ela pudesse falar. Olhei para Ian e percebi que ele também estava tenso, com gotas de suor escorrendo por sua testa, e apenas torci para que a ruiva não colocasse tudo a perder.

— Por que motivo você se envolveu com os Pétalas Vermelhas? — foi a próxima pergunta de Lavínia.

— Eu venho de uma família de bruxos — Poliana respondeu, depois de refletir por alguns segundos, como se escolhesse as palavras que diria. — No entanto, apesar de ser uma puro-sangue, nasci completamente desprovida de magia.

Aquela informação causou burburinho na audiência, como era de se imaginar; lembro que eu e meus amigos também ficamos igualmente surpresos quando descobrimos aquilo, na noite do acampamento de carnaval.

— Nunca aceitei essa minha condição — Poliana continuou, ignorando a reação do público. — Então sempre procurei alternativas para tentar despertar o meu lado sobrenatural. Quando descobri os Pétalas Vermelhas, pensei que aquele culto pudesse ser um caminho. E, por um breve momento, realmente funcionou, eu ganhei poderes e pude fazer uso da magia. No entanto, as consequências não foram nada positivas, como vocês bem sabem.

— Os acusados, Ian e Maia, e o vampiro Leocaster tinham algum tipo de ligação com esse culto dos Pétalas Vermelhas? — Lavínia questionou, prosseguindo com o interrogatório.

— Não, pelo contrário — frisou Poliana. — Roberto sempre foi o líder do culto e alguns de seus planos foram feitos justamente para impedir a interferência do grupo formado pelo Ian e pela Maia, como por exemplo, o sequestro da garotinha Alice. Quanto ao vampiro, eu interagi com ele pela primeira vez na noite do acampamento, não havíamos conversado antes disso, apesar de eu já tê-lo visto uma vez, na pousada, quando ele estava hospedado lá, durante uma das noites de música ao vivo.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora