20. A vez em que um jovem órfão sofreu uma decepção dolorosa

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Ian não perdeu tempo e avançou em nossa direção, puxando-me pelo braço e empurrando Fred para longe de mim. Tudo aquilo aconteceu tão rápido que eu sequer consegui esboçar qualquer reação, e apenas observei a improvável cena se desenrolar diante dos meus olhos, atônito.

— Ei, rapaz, não te ensinaram boas maneiras não?? — Fred perguntou, irritado, após receber o empurrão.

— Eu vou te ensinar é outra coisa se você não calar essa sua boca!!! — Ian respondeu, furioso. — Dá pra fazer o favor de sair de cima do meu namorado??

Não precisava ser um gênio para perceber que algo não estava certo. Sim, Ian é assumidamente ciumento e até mesmo um pouco possessivo, admito, mas eu não conseguia reconhecer ou entender o comportamento dele naquele momento. Era como se meu namorado tivesse sido possuído por uma fúria sem sentido, irracional, me fazendo temer o que estava por vir.

— Ian, se acalma por favor — tentei intervir, já notando a aglomeração de estudantes curiosos que se formava no corredor, à nossa volta. — A gente só tava conversando...

— Você não se mete! — ele disparou, rispidamente, apontando o dedo para mim. — Fica quieto aí que depois a gente conversa!

Se antes eu tinha suspeitas de que algo estava errado, agora eu já tinha completa certeza. Ian nunca havia levantado a voz para mim daquele jeito, quem dirá fazer barraco em um lugar público.

— Ei, rapaz, baixa a bola — pediu Fred, tentando manter a compostura. — E respeita o seu namorado. Você não tá vendo que tá envergonhando o Davi na frente de todo mundo?

— O rapaz aqui tem nome. É Ian. E tenho certeza de que você não se esquecerá disso tão cedo.

Ao terminar de dizer aquelas palavras, Ian desferiu um forte soco, que acertou o rosto de Fred em cheio. Logo os alunos ao redor começaram a gritar "briga!", "briga!", e ainda mais pessoas se juntaram ao tumulto que havíamos causado. Fred, por sua vez, não tinha gostado nem um pouco de ser atingido.

— Eu tentei conversar — suspirou meu mais novo colega, estralando os dedos das mãos. — Mas parece que você prefere aprender do jeito difícil. Que seja.

Antes que Ian pudesse reagir, foi a vez dele de levar um soco potente, que acertou bem em cima de seu olho direito, cortando o supercílio. A turba ao nosso redor continuava gritando, ensandecida, e eu simplesmente não conseguia me mover do lugar. Logo meu namorado partiu para cima de Fred e o que se seguiu foi uma grande sequência de socos, chutes e pancadas, de ambos os lados, ficando difícil de entender quem estava ganhando ou perdendo. Felizmente, ouvi uma voz familiar vindo em minha direção, o que me tirou do meu estado de choque.

— Davi??? O que tá acontecendo aqui, pelos deuses? — gritou Maia, que conseguira atravessar a aglomeração no corredor e me encarava, incrédula. — Me ajuda, por favor!

Logo minha amiga entrou no meio dos dois e conseguiu separá-los, arrastando Ian pelo braço e falando alguma coisa em seu ouvido, na tentativa de acalmá-lo. Aproveitei a brecha e me aproximei de Fred, tentando fazê-lo sair de perto de Ian. Antes que eu tivesse sucesso nessa empreitada, porém, fomos interrompidos pela chegada do professor de educação física, André.

— Mas que raios vocês pensam que estão fazendo??? — ele gritou, irritado. — Já pra sala, todos vocês!

A multidão de alunos rapidamente se dispersou, sobrando apenas Fred, Maia, Ian e eu.

— Não esperava isso de você, Ian! — André repreendeu. — Esse não é um comportamento apropriado pra um membro da nossa equipe de natação! E você, rapaz? — o professor continuou, dirigindo-se a Fred. — Mal chegou na escola e já tá se metendo em confusão?

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora