28. A vez em que um jovem órfão foi conduzido por uma divindade

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Eu tinha certeza de que mal conseguiria pregar meus olhos depois de tudo o que acontecera durante minha visita ao Lacrimosa. Assim que fomos informados sobre a explosão da cozinha, Leo correu para garantir que todos os clientes pudessem sair do clube em segurança. Depois disso, me pediu desculpas por encerrar nossa noite tão abruptamente e prometeu que entraria em contato comigo assim que terminasse de lidar com aquela situação. Tatianna, que naquela altura eu já havia entendido ser o braço direito do meu amigo vampiro, foi quem me trouxe de volta até a pousada.

— Se houver alguma coisa que eu possa fazer pra ajudar vocês, me avise — eu pedi, apreensivo, antes de descer do carro.

— Não se preocupe, Davi, estamos acostumados a lidar com situações como essa — ela me garantiu, serena. — Mas aprecio muito saber que você se importa tanto assim com o meu mestre. Não me esquecerei disso — completou a vampira, antes de partir.

Assim que cheguei em meu quarto, verifiquei meu celular, na esperança de que Ian tivesse falado comigo, mas não encontrei nada nas notificações. Mesmo assim, mandei uma mensagem, avisando que havia chegado em casa em segurança e desejando boa noite, optando por não mencionar o ataque ao clube, pelo menos por enquanto. Ele visualizou e não respondeu.


***


Assim que os primeiros raios de sol atravessaram as janelas do sótão, levantei da cama e me preparei para sair. Tinha aquele dia inteiro livre e estava disposto a avançar nos meus estudos da magia, que eu havia acabado deixando em segundo plano. O retorno de Leo e o incidente no clube na noite anterior eram provas de que meus poderes poderiam se fazer necessários muito em breve, isso era mais do que um fato; e eu precisaria estar pronto para defender meus amigos, não importa quão poderoso fosse nosso adversário. Foi por isso que peguei o grimório da minha mãe, chamei Órion e me dirigi até o bosque, aos fundos da pousada, tão logo terminei meu café da manhã.

Após me concentrar e meditar por alguns minutos, respirei fundo e abri o livro numa página aleatória. Não havia muito escrito ali, além de um pequeno poema, que era a única coisa que eu conseguia entender em meio aos símbolos e desenhos espalhados pelas margens da folha. O trecho dizia o seguinte:

"Irmãos de alma, partilham mais que sangue

Confia-te a mim, que eu mostrarei a ti

Minhas janelas abertas,

revelando um mundo que não vês

Fenestram aperirem"

Pronunciei aquelas palavras em voz baixa, tentando me concentrar em seu significado oculto, tal qual minha tia me instruíra. Porém, toda vez que eu repetia o último trecho, em latim, Órion se agitava, como se tentasse me mostrar alguma coisa.

— O que foi, amiguinho? — perguntei, sem entender a impaciência da cobra. Órion rapidamente subiu pelo meu corpo e foi até meu rosto, se enrolando ao redor dos meus olhos e bloqueando minha visão.

— Calma, seu afobado, o que você tá fazendo? — questionei, confuso. A serpente comprimiu levemente seu corpo sobre minhas pálpebras, como se quisesse me dizer algo. — É pra eu ficar de olhos fechados? — arrisquei.

Ao ouvir eu dizer aquilo, a cobra desceu do meu rosto e voltou a ficar no chão, diante de mim.

— Ok, deixa eu ver se eu entendi — insisti. — Você quer que eu repita esse encantamento, mas com os olhos fechados, é isso?

Meu familiar abaixou a cabeça, como se estivesse confirmando meu palpite.

— Certo, vamos lá então.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora