49. A vez em que uma loba dourada testemunhou uma reunião...

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49. A VEZ EM QUE UMA LOBA DOURADA TESTEMUNHOU UMA REUNIÃO ENTRE OS FILHOS DA DEUSA 


Os momentos que se seguiram à chegada da tropa da Caçada Voraz ao campo de batalha foram de absoluta tensão. Era evidente o quanto aqueles lobos eram guerreiros de elite, já que faziam investidas coordenadas contra o Devorador de Sonhos, uns após os outros, incessantemente, com a clara intenção de esgotar as energias do monstro. Após observarem o início da batalha do lado de fora do fosso, aqueles soldados já tinham memorizado os padrões de movimentação de Bakunawa e sabiam como prever e desviar dos ataques de fogo mágico. Os dois lobisomens tomaram a dianteira e eram responsáveis por desferir os principais golpes contra a cabeça da criatura, se valendo da mobilidade de seus membros superiores, enquanto o restante dos lobos se dedicava a atacar o corpo da serpente. Eu só torcia para que eles conseguissem manter aquela vantagem por tempo suficiente.

Para nosso alívio, cerca de vinte minutos depois do início da investida dos lobos da Caçada Voraz, vimos uma caminhonete se aproximar do fosso e dela descerem cinco pessoas.

— É a Eleonora! — informou Poliana. — A minha irmã!

Conforme os visitantes se aproximaram, pude ter uma visão melhor deles. Eleonora era claramente uma cópia de Poliana, numa versão mais velha, com longos cabelos lisos em um tom castanho acobreado. Junto com ela, vieram dois homens e duas mulheres. Poliana fez um sinal para eles e logo o grupo se juntou a nós, sobre o altar. Assim que eles viram Davi em sua forma de cernuno, arregalaram os olhos e exibiram expressões de espanto. Eleonora, porém, tomou a iniciativa e se ajoelhou diante de meu amigo, pegando a todos nós de surpresa.

— Saudações, deus cornífero, pai de todos nós. Sua filha e serva Eleonora se apresenta diante de ti.

Davi estava claramente constrangido com aquela abordagem, mas limitou-se a se abaixar, pegar Eleonora pelas mãos e fazer com que ela ficasse novamente de pé.

— Não precisa se ajoelhar diante de mim — ele pediu. — Sou apenas um garoto, morador de Esmeraldina, assim como vocês. Não mereço esse tipo de tratamento.

— Ainda assim, você é a forma encarnada de um deus na terra e merece respeito — Eleonora replicou, com delicadeza. — Mas o trataremos da maneira como preferir, é claro.

— Espero que vocês não tentem fazer nada de ruim contra o Davi, ou terão que se resolver com a gente! — Ian ameaçou, preocupado.

— Viemos em paz — Eleonora garantiu. — Temos assuntos mais urgentes pra resolver com o Filho do Deus na noite de hoje. As implicações do renascimento dele em nossas terras podem ser discutidas em um momento futuro, caso isso seja possível.

— Agradeço — meu amigo respondeu. — Podem deixar essas formalidades de lado e me chamar de Davi, aliás. É um prazer conhece-los, apesar de tudo o que tá rolando por aqui...

— Eu sou Eleonora, a Grã-sacerdotisa do círculo de bruxos de Esmeraldina — apresentou-se a irmã de Poliana. — Esses que me acompanham são o meu marido Igor e as irmãs dele, Larissa e Sara. O outro rapaz é primo deles e se chama Henrique. Todos são bruxos, com diferentes especializações. Estamos aqui para ajudar.

— Ele tá precisando mesmo... — Poliana comentou, impaciente, com tom de desdém. Eleonora apenas lançou um olhar de reprovação em direção à sua irmã caçula e voltou a se concentrar em Davi.

— O que você está tentando fazer, rapaz? — ela perguntou.

— O Perennis Requiem — Davi respondeu prontamente. — Já fiz a confirmação, preparei o terreno e ergui quatro pilares. Só não consigo convocar o último, da magia natural. Tentei várias vezes e nada aconteceu!

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora