9. A vez em que uma loba dourada se entregou a um sentimento desconhecido

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Bárbara me emprestou uma toalha para que eu tomasse banho e ficasse mais confortável. Demorei um pouco mais do que o usual debaixo da ducha de água morna, deixando as tensões do dia e a minha preocupação com a coleira ao redor do meu pescoço escoarem junto com a espuma e desaparecerem ralo abaixo. Após o banho, vesti meu pijama e já me sentia bem mais relaxada. Encontrei Bárbara na cozinha, também já de banho tomado e com uma toalha enrolada na cabeça.

— Tô sem paciência pra cozinhar, pensei que podíamos pedir uma pizza, o que você acha? — ela sugeriu, assim que notou minha presença.

— Por mim tudo bem — concordei.

Bárbara ligou para um restaurante que conhecia e logo estávamos com uma pizza perfumada diante de nós. Escolhemos a primeira comédia romântica que apareceu no catálogo da Netflix e nos sentamos no carpete, entre as almofadas, prestando atenção na TV e saboreando nosso jantar improvisado.

— Você aceita um vinho? — Bárbara ofereceu mais tarde, quando já havíamos passado da metade do filme e o silêncio havia tomado conta do ambiente.

— Acho que uma taça não faria mal — respondi. Eu não era tão resistente à bebida quanto a maioria dos lobos, e não sabia como meu corpo reagiria agora que estava privado de seus poderes, por isso decidi não exagerar. Lembrei que também tinha aula logo cedo no dia seguinte e ir para a escola de ressaca em plena terça-feira não estava nos meus planos.

Logo Bárbara voltou à sala de estar com duas taças e uma garrafa na mão. Reparei que ela não mais usava a toalha ao redor da cabeça, sendo possível observar o leve movimento dos cachos de seu cabelo enquanto ela nos servia a bebida. Também não pude deixar de perceber que, mesmo usando roupas de ficar em casa e sem utilizar adereço algum, minha colega continuava incrivelmente atraente.

— Lá vai você fazer essa cara de novo... — Bárbara me provocou, fazendo com que eu voltasse a prestar atenção no que ela dizia.

— Oi? — perguntei, confusa. — Que cara?

— Não é a primeira vez que eu tô te falando alguma coisa e do nada você desconecta, parece até que viajou pra algum outro lugar, perdida nesses pensamentos... — Bárbara explicou, sorrindo.

— Ah, desculpa, eu ando mesmo meio avoada ultimamente... — admiti, um pouco envergonhada.

— Não precisa se desculpar — ela disse. — Eu acho fofo.

Não sei se foi o efeito do vinho ou daquele último comentário, mas logo senti meu corpo ficar mais quente e meu rosto ruborizar. Bárbara não pareceu perceber — ou pelo menos fingiu que não percebeu — e voltou a concentrar sua atenção no filme. Conforme os minutos foram passando, porém, fui sentindo meus olhos pesarem e o sono chegar e, sem me dar conta, acabei recostando minha cabeça no ombro de Bárbara, que estava sentada ao meu lado. Surpreendendo-me mais uma vez, ela me puxou para mais perto de si e me fez deitar em seu colo, se dedicando a acariciar meus cabelos com delicadeza, enquanto continuava com o olhar fixo na TV.

Não vi a hora que o filme acabou, mas, quando dei por mim, estava sendo despertada por Bárbara, que chamava meu nome.

— Vem, Maia, deixa eu te levar para o quarto — ela me disse quando eu finalmente acordei, passando o braço pela minha cintura e me ajudando a ficar de pé.

Aquele contato foi, de certa forma, reconfortante, então não criei resistência e apenas deixei que ela me guiasse pelos corredores escuros de sua casa. Chegando em seu quarto, Bárbara acendeu a luz do abajur e me fez sentar na cama.

— Tem mais lençóis e cobertas aqui no armário, caso você sinta frio — ela informou. — Vou deixar você descansar à vontade, já tô indo para o outro quarto.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora