51. A vez em que uma loba dourada presenciou um acerto de contas

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Mal podíamos acreditar que tínhamos sido mesmo capazes de derrotar a serpente gigante, que agora jazia sem vida diante de nós, no centro do fosso. Após a conclusão do feitiço de Davi, toda a magia que envolvia a arena havia desaparecido e, finalmente, podíamos respirar com tranquilidade outra vez.

Os metamorfos que ainda estavam de pé passaram as próximas horas da madrugada auxiliando os feridos e fazendo a contagem de mortos. Vários foram encaminhados para o hospital e não podíamos negar que muitas vidas tinham sido perdidas, tanto do nosso lado quanto do lado da Caçada Voraz. O corpo do Grande Lobo, provavelmente a perda mais chocante da noite, foi cuidadosamente embalado e removido do local por alguns dos soldados que serviam diretamente ao conselho.

— E o Fred? — Davi perguntou, preocupado. — Ele ainda tá dentro do monstro... Tenho certeza de que a avó dele vai querer saber o que aconteceu com o neto...

— Vou mandar alguns lobos abrirem a serpente e procurarem pelo corpo dele, não se preocupe — meu pai respondeu, tranquilizando-o. — Ele vai ter um enterro digno, como merece.

— Gente, eu acabei de falar com a minha mãe, minha prima Lia acordou! — Poliana anunciou, animada.

— Isso é um bom sinal — pontuou Benjamin. — Provavelmente os demais afetados pela doença do sono também devem estar acordando nesse momento...

Procurei por Bárbara, para saber se ela tinha recebido alguma notícia de seus primos. Minha amiga estava sob os cuidados de Anne, que removera o espinho de Bakunawa e agora fazia um curativo na coxa da pantera mais jovem.

— Tá tudo bem? — perguntei, preocupada.

— Ela tá com um pouco de febre, deve ser ação do veneno — Anne explicou. — Vai precisar ficar de cama por alguns dias, com a perna imobilizada, mas logo tudo estará de volta ao normal. As panteras também se regeneram rápido, como os lobos — completou ela.

— Se eu puder fazer alguma coisa pra ajudar, me avise por favor — eu pedi, aflita.

— Vai ficar tudo bem, não se preocupe, criança — Anne respondeu, com um sorriso. — Vocês já fizeram demais por hoje e merecem um bom descanso.

— Acho que todos precisamos — comentou o Pajé, que também estava por perto. — Será que já podemos ir embora, Augusto? — ele perguntou a meu pai. — Ou os lobos ainda precisam de mais alguma ajuda?

— Da minha parte estão todos dispensados — meu pai respondeu, notavelmente exausto. — Só precisamos checar com os lobos do conselho...

Após dizer aquilo, ele foi procura-los e logo retornou acompanhado de Lavínia, que tinha os olhos vermelhos e uma expressão desolada, provavelmente por consequência de chorar a morte de Hector.

— Peço que não vão embora ainda — a loira avisou, sem emoção. — A Caçada Voraz planeja partir de Esmeraldina o quanto antes, então queremos resolver logo a questão da avaliação do Casal-Líder Augusto e Helena. Todos vocês estão diretamente envolvidos nessa situação e gostaríamos que estivessem presentes para ouvirem o que temos a dizer.


***


O sol já começava a aparecer quando finalmente conseguimos nos reunir para a tal conversa com os lobos do conselho. Eu estava acompanhada por meus pais, meus dois irmãos e Davi. Leo tinha dispensado seus vampiros e ficara apenas na companhia de Tatianna. Anne fizera o mesmo com as panteras, ficando apenas ela, Bárbara e mais outros dois guerreiros, que ajudariam a levar minha amiga de volta para casa, quando tudo terminasse. Estavam presentes ainda o Pajé, com Inara, já de volta à sua persona feminina, e Poliana, com sua irmã e os demais bruxos que as acompanhavam. Usamos o altar para nos posicionarmos, juntamente com Conrado e Lavínia, enquanto os outros lobos da nossa alcateia e da tropa da Caçada Voraz nos assistiam mais abaixo, na arena, garantindo que todos pudessem enxergar com clareza a discussão que ali ocorreria.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora