18. A vez em que um jovem órfão foi abordado por um estranho mensageiro

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 Alfredo estava à minha espera assim que retornei à pousada. Como da vez anterior, minha tia nos conduziu até o escritório, para que pudéssemos conversar sem interrupções.

— Bem, Davi, estou voltando hoje para capital, vim apenas avisa-los que já dei entrada em toda a documentação e, em alguns dias, você será oficialmente maior de idade — ele informou. — No entanto, antes de ir, temos mais algumas coisas para resolver. Já fiz sua matrícula na autoescola e deixei tudo pago, suas aulas serão no fim da tarde, assim que você sair do colégio.

— Eu já sei dirigir — revelei. — Minha mãe praticava comigo toda vez que a gente ia para a nossa casa de praia...

— Isso é ótimo — o advogado respondeu. — Então basta fazer o número mínimo de aulas exigido pelo departamento de trânsito. No entanto, ainda precisamos resolver a questão do carro.

— Houve algum problema? — eu quis saber.

— Não exatamente, mas o nosso orçamento não estava prevendo essa compra — ele explicou. — Nós só temos autorização para adquirir um carro de modelo econômico, 1.0.

— Eu não ligo pra essas coisas — fiz questão de assegurar. — Desde que funcione, pode ser até usado...

— Não acho que vá servir — minha tia interrompeu. — Não se esqueça que estamos em Esmeraldina. Você já deu uma boa olhada nas estradas daqui? Sem falar que, além de ir para capital todo mês, você provavelmente fará visitas constantes à fazenda e à cabana onde seu namorado está morando, estou certa? Um carro desses não vai durar nem um ano nessas condições.

— E agora? — perguntei aos dois. — O que a gente faz?

— O jipe do seu tio ainda está na garagem — ela revelou, com tristeza no olhar. — Desde que ele se foi, eu não tive coragem de voltar a usá-lo. Mas é um bom carro, com tração nas quatro rodas, pronto para encarar nossa cidade. Só precisa de uma boa manutenção.

— O que você acha dessa alternativa? — Alfredo me perguntou.

— Tia, eu não sei nem o que dizer... — respondi, surpreso. — Se você não se incomodar, eu ficaria muito feliz de usar o jipe do tio Pedro... Quer dizer, nas poucas vezes que eu o vi, ele parecia incrível...

— Não é incômodo algum, querido — ela me tranquilizou. — Pense nele como uma herança que seu tio deixou pra você, tudo bem?

— Bom, vou mandar um guincho buscar o veículo então — o advogado informou. — Vamos regularizar os documentos, fazer uma revisão completa e deixa-lo nas condições apropriadas para o seu uso. Isso me faz lembrar de outro detalhe. Nós também vamos instalar um dispositivo de rastreio nele, ok?

— Isso é mesmo necessário? — indaguei, um pouco incomodado.

— Sim, é — ele confirmou. — Temos que pensar na sua segurança. Em alguns dias, você será o principal acionista de uma empresa de lucros milionários. Precisaremos tomar todas as medidas possíveis para que nada de ruim aconteça com você.

— Ele está certo, querido — minha tia comentou. — Todo cuidado é pouco nessas circunstâncias.

— Gostaria de reforçar que você também tem direito a usufruir de todos os benefícios de nosso sistema de segurança — Alfredo prosseguiu. — Caso necessite de motoristas ou guarda-costas, eles podem ser providenciados. Eles ficarão a uma distância segura e não te incomodarão nem atrapalharão sua privacidade, fique tranquilo.

— Eu acho que isso já é um pouco demais — comentei, constrangido. — Podemos ficar só com o rastreador no carro?

— Como você preferir — o advogado concordou. — No entanto, caso mude de ideia ou precise de qualquer outra coisa relacionada à sua segurança ou bem-estar, não hesite em procurar por mim. Farei tudo que estiver ao meu alcance.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora