O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)

42. A vez em que um jovem órfão visitou uma outra dimensão

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Minha cabeça trabalhava a mil por hora e meu coração batia acelerado diante da possibilidade de que Fred pudesse mesmo estar envolvido de alguma forma com a criatura misteriosa que vinha aterrorizando Esmeraldina. Porém, apesar da minha desconfiança, eu sabia que não podia confrontá-lo diretamente; nós estávamos sozinhos, no meio da reserva, longe de tudo e de todos, e eu dependia completamente dele para voltar em segurança para casa.

Outra coisa que me preocupava era o fato de eu e meus amigos do Clube da Lua já termos considerado a possibilidade desse novo monstro ser tão forte quanto a Flor Cadáver. Eu tinha consciência de que só saímos vitoriosos na noite do acampamento de carnaval porque lutamos todos juntos, unindo nossos poderes e habilidades e, mesmo assim, não tinha sido nada fácil. Fazia pouquíssimo tempo que eu vinha tentando aprender a controlar minha magia de cernuno, então era muito pouco provável que eu desse conta de vencer essa nova criatura sozinho, em um embate direto, caso meu colega estivesse mesmo envolvido com ela e isso viesse a acontecer.

Ainda assim, de certa forma, me acalmava pensar que Fred já tivera várias oportunidades de me atacar anteriormente e, apesar disso, nunca tinha me feito mal algum. Eu já havia pegado carona sozinho com ele três vezes, sem contar a ocasião em que ele aparecera na minha casa de surpresa para me convidar para a trilha. Em qualquer uma daquelas situações, ele teria tido tempo de sobra para se livrar de mim se assim desejasse, porém nada de errado tinha feito. Existiria alguma chance de eu estar enganado e ele não desejar o meu mal? Ou será que ele nem sequer tinha consciência de que havia uma criatura sobrenatural agindo sobre ele? Antes que eu pudesse encontrar uma resposta para todas aquelas perguntas, no entanto, fui interrompido por meu colega.

— Aconteceu alguma coisa? — Fred perguntou, sério. — Você ficou calado do nada... Se eu disse algo que não devia, peço desculpas...

— Não, não é nada disso! — me apressei em responder, tentando disfarçar meu nervosismo crescente. — É que essa nossa conversa sobre o Leo e sobre o clube acabaram me fazendo lembrar do que aconteceu com o Ian na noite passada e eu me perdi aqui nos meus pensamentos...

— Ah, sinto muito, seu humor já tava um pouco melhor, não tinha intenção de te chatear de novo... — ele se desculpou, preocupado.

— Imagina, Fred, você já fez demais me trazendo até aqui e me ouvindo chorar minhas pitangas — agradeci, sinceramente. — Não se preocupa, eu tô decepcionado com isso agora porque ainda tá tudo muito recente, mas uma hora passa, como você mesmo disse.

— Pode chorar o quanto achar necessário então — ele brincou. — Sou um bom ombro amigo, aproveite!

— Tenho certeza que sim. Que horas você vai acordar amanhã, aliás? — perguntei, mudando de assunto propositalmente. Eu precisava traçar um plano de ação e, para isso, tinha que saber qual seria a rotina do meu colega no dia seguinte.

— Provavelmente por volta das cinco da manhã — ele respondeu. — Mas não precisa acordar nesse horário não, eu vou me esforçar pra não fazer barulho, descanse o tanto que precisar.

— Ah sim, farei isso, não se preocupe — assenti. — Você tinha mencionado que havia uma trilha mais longa, pra turistas, que vinha do balneário até aqui... Onde exatamente ela fica?

— Do lado esquerdo do lago, se você estiver olhando pra ele da torre de observação — Fred respondeu, pensativo. — Mas por que o interesse repentino nisso?