3. A vez em que uma loba dourada lidou com uma visita indesejada

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Mantinha meus olhos atentos na rodovia à minha frente, enquanto Ian se remexia, inquieto ao meu lado, no banco do passageiro.

— Como assim eles já estão na fazenda? — ele protestava. — Pensei que nosso julgamento aconteceria apenas no final dessa semana!

— Eu também não faço ideia do que tá rolando — admiti. — Papai não deu muitos detalhes na mensagem, deve estar ocupado recepcionando os tais membros do conselho.

— Como foi com a Bárbara? — Ian quis saber. — Ela vai nos ajudar?

— Sim, deu tudo certo, ela vai testemunhar a nosso favor — confirmei. — Nós conversamos e depois eu a deixei na faculdade dela, antes de voltar pra te buscar na pousada. Então, contando com a Inara e o Davi, já temos agora três pessoas do nosso lado.

Ian coçou a cabeça, constrangido, e minha loba imediatamente ficou em alerta. Eu conhecia muito bem aquela sensação: havia verdades sendo omitidas.

— Desembucha, Ian — eu pedi, sem rodeios. — O que você tá escondendo de mim?

Meu irmão apenas revirou os olhos, irritado.

— Já te disse o quanto me irritam essas habilidades da sua loba? Pelos deuses!

— Para de enrolar e fala logo o que você tá pensando — eu pedi, ignorando o último comentário dele.

— É sobre o Davi — Ian finalmente revelou. — Eu pedi pra ele não comparecer ao julgamento.

Ao ouvir aquilo, freei o carro bruscamente e o estacionei no acostamento da rodovia.

— Como assim você pediu pra ele não comparecer? — perguntei, incrédula. — Você pirou? Ele é a nossa principal testemunha!

— Eu imaginei que você fosse reagir assim, maninha... — suspirou meu irmão. — O Davi também ficou bastante bravo quando eu sugeri isso pra ele. Foi até difícil convencê-lo. Mas eu não posso deixá-lo se arriscar desse tanto.

— Do que você tá falando, Ian?? — questionei, inconformada. — Ainda não entendi quais são seus motivos!

— Eu acho que a gente tá tão preocupado com o que pode acontecer conosco que acabou deixando de considerar alguns detalhes — ele começou a explicar. — Pensa comigo. O Grande Lobo em pessoa tá aqui, em Esmeraldina, e certamente deve ter trazido mais um bando de lobos de elite junto com ele. E se, no meio do julgamento, eles decidirem que o Davi representa uma ameaça, por conta dos poderes dele? E se tentarem aprisiona-lo e leva-lo pra longe de nós, pelo bem dos lobos? Você lembra muito bem o tanto que nossos pais e o Benjamin surtaram quando descobriram sobre o sangue de cernuno! Quem garante que a Caçada Voraz não vai reagir da mesma forma, ou até pior?

Admito que aquilo sequer havia passado pela minha cabeça, mas, agora, ouvindo os argumentos de Ian, até que tudo fazia bastante sentido.

— E não é só isso — meu irmão continuou. — Você conhece o Davi e sabe que ele não é de abaixar a cabeça e aceitar o que ele não concorda calado. E se ele perder a linha e resolver encarar os lobos? E se, no calor do momento, esses poderes de cernuno, que ele ainda nem sabe direito como funcionam, saírem do controle? Já pensou na carnificina que pode rolar durante o julgamento? Nós não podemos correr esse risco!

De fato, uma batalha entre os lobos do conselho e um cernuno inexperiente era algo que não precisávamos naquele momento. Mas eu sabia que as coisas não se resolveriam assim tão facilmente.

— Você tem noção de que o papai e a mamãe não vão gostar nada disso, né? — mencionei. — Eu não duvido nada de darem um jeito de arrastá-lo até a fazenda, mesmo contra a nossa vontade...

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora