17. A vez em que um jovem órfão desempenhou o papel de anfitrião

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Tudo aconteceu muito rápido nos momentos seguintes. Ian logo correu para buscar ajuda e, em poucos minutos, uma ambulância saía do colégio, levando aquele aluno que desmaiou diante de nós para o hospital. Para nosso alívio, fomos informados pelos socorristas que o garoto ainda mantinha os sinais vitais, então restava torcer para que não fosse nada grave e ele conseguisse se recuperar sem mais problemas. Obviamente, depois da confusão que tudo aquilo causou, fomos chamados à sala da diretora, para explicar exatamente o que tinha acontecido. Ian já estava mais do que atrasado para o treino da equipe de natação, então apenas o dispensei e resolvi ir sozinho até a diretoria.

— Entre, Davi, sente-se por favor — pediu Guilhermina, assim que me viu chegar em sua sala.

Tão logo me acomodei, expliquei à diretora que não conhecíamos aquele aluno e que, quando o abordamos, ele aparentemente já estava passando mal. Ela anotou todas as informações sobre o ocorrido e agradeceu a rapidez com que pedimos ajuda.

— Você disse que estava vindo do clube de astronomia — ela mencionou, em seguida. — Então devo presumir que vocês vão mesmo levar essa atividade extracurricular adiante?

— Sim, eu e meus colegas já nos organizamos e vamos entregar o projeto no prazo estipulado — fiz questão de assegurar.

— Mas e quanto à aluna Inara? — Guilhermina quis saber. — Ela não está hospitalizada?

— Infelizmente sim — confirmei. — Mas já encontramos um novo membro. A Poliana agora também é integrante do clube.

A diretora arqueou as sobrancelhas ao ouvir aquilo.

— A Poliana? Tem certeza? Mesmo depois de tudo que aconteceu entre vocês dois?

— Tá tudo bem entre a gente, ela me pediu desculpas e já nos resolvemos — a tranquilizei.

— Bem, vocês jovens nunca cansam de me surpreender — Guilhermina comentou, contrariada. — Mas, como é você que está dizendo, eu acredito. Porém, não se esqueçam do prazo do projeto, preciso que ele esteja na minhas mãos até o fim dessa semana — ela reforçou.

— Sem problemas — confirmei. — Posso ir agora?

A diretora refletiu por alguns segundos antes de me dispensar.

— Você está tendo alguma aula nesse momento? — ela quis saber.

— Era pra eu estar no preparatório para o vestibular, mas, com toda essa confusão, já perdi quase tudo — respondi, olhando o relógio que havia na parede. — Faltam só vinte minutos pra acabar, acho que nem compensa mais entrar na sala...

— Não se preocupe, essa falta será abonada, já que há uma boa justificativa para a sua ausência — ela garantiu. — Será que eu poderia aproveitar esses minutos que você ainda tem disponíveis para te pedir um favor então?

— Um favor? — perguntei, surpreso. — E o que seria?

— Você mudou pra cá tem pouco tempo, mas rapidamente conseguiu fazer amigos e se familiarizar com nosso colégio — ela mencionou. — Por isso, acho que poderia me ajudar com uma pessoa que está passando por uma situação parecida...

— Quem? — indaguei, curioso.

— Meu neto — ela respondeu, com um suspiro. — Ele era um praticante assíduo desses esportes radicais que vocês, jovens, tanto amam, mas sofreu um acidente durante uma sessão de escalada que resultou em algumas consequências bastante... desagradáveis, eu diria... Ele perdeu uma perna, infelizmente.

— Nossa, sinto muito — respondi, surpreso com aquela revelação.

— Assim como você, ele morava na capital, e costumava vir pra cá ou pras cidades vizinhas nos feriados, para praticar essas atividades. Depois do acidente, ele ficou um tempo afastado da escola, pra fazer a reabilitação e se acostumar a usar a prótese. Mas, quando estava pronto para voltar a estudar, não teve coragem de encarar os colegas do antigo colégio. Ficou com medo de como reagiriam quando o vissem e percebessem que ele não era mais como antes... Ele acabou perdendo o último ano...

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora