19. A vez em que um jovem órfão começou a dominar seus poderes

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Não precisei refletir muito antes de dar minha resposta ao estranho membro da Caçada Voraz que tinha aparecido à minha procura.

— Não tenho interesse em conversar com você — declarei, decidido. — Acredito que deixei meu posicionamento bastante claro na carta que enviei durante o julgamento. Não quero me envolver em assuntos dos lobos!

Não consigo explicar em palavras o que aconteceu em seguida. Eu apenas pisquei os olhos e, nesse intervalo, senti o ar se movimentar brevemente ao meu redor. Quando tornei a abri-los, o garoto tinha desaparecido.

— Estou atrás de você.

Virei-me rapidamente e, de fato, ali ele estava, perigosamente próximo, me encarando. Para piorar, ele tinha o grimório da minha mãe em suas mãos, sem que eu ao menos tivesse notado o momento em que ele o pegou de mim. Afastei-me de Conrado instintivamente e tornei a expressar o meu descontentamento.

— Como você fez isso?? — eu quis saber, incrédulo.

— Assim como você, também tenho alguns talentos — ele respondeu, sem emoção alguma.

— Devolve meu livro! — pedi, tentando disfarçar o meu nervosismo crescente.

— Só depois que conversarmos e você ouvir o que eu tenho a dizer. Por favor.

A cobra em meu ombro estava em posição de ataque, com o olhar fixo no estranho garoto. Aquilo não era um bom sinal. Ele era um lobo experiente; já eu, mal conseguia controlar os meus poderes. Era clara a minha desvantagem.

— Tudo bem, eu aceito suas condições — declarei. — Sou todo ouvidos.

— Imagino que seu namorado tenha te contado tudo — ele começou, falando pausadamente —, mas, de toda forma, não é segredo que a Caçada Voraz está muito interessada em entender como a criatura que vocês chamam de Flor Cadáver veio parar em um território protegido pelos lobos.

— Eu já disse que não tenho nada a ver com isso! — protestei.

— Eu não estou te acusando — Conrado prosseguiu, sem levantar o tom de voz. — Você é bem burro, hein? Custa calar a boca um pouco e me escutar primeiro? — completou ele, finalmente demonstrando um pouco de impaciência.

— Ok... — respondi, constrangido, tentando manter o controle. Por mais inofensivo que aquele menino parecesse, eu sabia que tudo o que ele precisava era de um motivo para acabar comigo, por isso eu tinha que segurar a onda e não me deixar levar pelas aparências.

— Pois bem — ele prosseguiu, entediado. — Existe uma peça essencial faltando nesse quebra-cabeça. Meu chefe tem certeza de que se tivéssemos acesso a ela, seria bem mais fácil entender o que está acontecendo por aqui. Por isso ele me enviou.

— E que peça seria essa? — eu quis saber.

— O seu amigo morcego, é claro — o lobo revelou, pacientemente. — O príncipe dos vampiros, Leocaster. Onde ele está? Só preciso saber isso pra poder voltar pra casa. Prometo não te incomodar mais.

— Eu não faço ideia — respondi, honestamente. — Ele desapareceu depois que a criatura foi selada e eu fui hospitalizado... Não tivemos contato desde então...

— Vou fingir que acredito por enquanto — informou o menino, deixando transparecer um certo desapontamento com a minha resposta. — Eis o acordo que a Caçada Voraz tem a oferecer para você, garoto-cernuno. Meu chefe gostaria de interrogar esse vampiro. Precisamos de mais informações sobre a criatura que ele levou embora, trancada naquele selo. Desconfiamos que ele não contou tudo o que sabia. E precisamos que você nos ajude nisso.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora