7. A vez em que uma loba dourada viu seu lar desmoronar ao redor de si

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Estaria mentindo se dissesse que não estava extremamente preocupada com o resultado daquela votação. Eu tinha consciência de que o testemunho inesperado de Teresa poderia vir a ser o último empurrãozinho que faltava para os lobos se comoverem a nosso favor, mas, ainda assim, não conseguia ficar tranquila quando pensava que nosso destino estava nas mãos dos três membros da Caçada Voraz, que eu tinha agora diante de mim.

— Iremos apresentar os resultados para cada uma das acusações, começando pela mais grave, o homicídio do líder dos Pétalas Vermelhas, Roberto — Hector declarou.

Mais uma vez um silêncio agoniante tomou conta da arena.

— A maioria dos votos decidiu que Ian e Maia são inocentes desse crime — anunciou o Grande Lobo, sem muita empolgação.

Virei-me para Ian e sorri, enquanto ele apertava minha mão por baixo da mesa, a única comemoração que nos permitimos naquele momento.

— Agora vamos à segunda acusação, traição — Hector prosseguiu, sem perder tempo. — Mais uma vez, os acusados foram considerados inocentes.

Eu mal podia acreditar naquele resultado e já não conseguia disfarçar o pequeno sorriso que insistia em aparecer em meus lábios.

— Devo ressaltar, no entanto, que vocês se livraram dessa acusação por apenas um voto de diferença — Hector nos advertiu, em tom sério. — Que isso sirva de alerta a vocês dois. Foi por bem pouco.

Aquela informação não poderia ser desconsiderada. Ela significava que praticamente a metade dos lobos ali presentes não tinha aprovado nossas atitudes, o que me fez voltar a ficar ansiosa com o resultado que ainda faltava ser anunciado. Felizmente, não demoraria muito para eu descobrir o que havia sido decidido.

— Por fim, a última acusação, insubordinação — prosseguiu Hector. — Sinto muito, Ian e Maia, mas, dessa vez, vocês foram considerados culpados — o Grande Lobo declarou, causando grande burburinho na audiência.

— Silêncio, por favor — Hector pediu aos presentes. — Como líder do conselho, admito que não me surpreendi com esse último resultado, já que, por mais que os acusados tivessem as melhores das intenções, ficou bastante claro, durante nossas investigações, que vocês conscientemente escolheram omitir informações importantes e agir contra as recomendações dos líderes da alcateia a qual pertencem — ele declarou, dirigindo-se a mim e a Ian. — Foi inclusive considerando a natureza desse crime e a maneira que os dois o cometeram que eu escolhi a punição que julgo ser a mais apropriada — completou. — Ian e Maia, eu, Hector, na posição de Grande Lobo, sentencio vocês a usarem a coleira de prata pelo período de trinta dias seguidos, começando hoje.

— Você sabe o que é isso? — Ian sussurrou imediatamente ao meu lado, assustado com o que acabara de ouvir.

— Infelizmente sim... — confirmei. — A coleira de prata suprime nossos poderes. Não poderemos nos transformar nem sentir a presença de nossos lobos enquanto a usarmos, além do enorme desconforto físico causado pelo contato da prata com a pele. É quase um instrumento de tortura medieval — expliquei a meu irmão, apreensiva com aquela notícia.

Expressões de espanto podiam ser ouvidas vindas de todos os lados após aquele anúncio e logo vi meu pai se colocando de pé.

— Hector, você não acha que está pegando um pouco pesado com eles? — ele perguntou, visivelmente preocupado.

— Eles são maiores de idade e saudáveis, não tenho dúvidas de que aguentarão, um mês passa rápido — o líder do conselho respondeu, sorrindo. — E eu acredito que a coleira de prata, mais do que uma punição, também servirá como um aprendizado — ele continuou. — Algo que ficou bem claro para mim, ao longo dessa investigação, é o quanto esses dois supervalorizam seus poderes. A garota age como se estivesse acima do bem e do mal, julgando por si só o que é mentira e o que é verdade, graças às habilidades do Lobo do Sol que possui. Já o garoto parece ter uma síndrome de super-herói desde que encarou o ritual do suplício prateado e conheceu o seu namoradinho. Bastou experimentar a união de seus poderes de lobo com a magia do cernuno que já passou a acreditar em lendas antigas sobre um suposto laço lunar e a se sentir um guerreiro de elite, quando, na verdade, mal acabou de sair das fraldas. Tenho certeza de que esse tempo sem depender das habilidades mágicas para tudo vai ajuda-los a dar mais valor e a respeitar a dádiva que receberam com o sangue dos lobos. Espero que eles entendam que sem a alcateia, eles não passam de meros mortais — concluiu ele, em tom severo.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora