38. A vez em que um jovem órfão sofreu com um coração partido

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Após as visitas inesperadas de Fred e Conrado, passei o restante do dia lutando com as inúmeras páginas do feitiço de selamento que eu ficara encarregado de aprender. Ele era composto por uma sequência intrincada de evocações, e o fato de ter algumas partes escritas em latim só tornava tudo ainda mais complicado. Segundo minha tia havia me explicado brevemente, nossas tradições mágicas descendiam dos povos celtas, mas, em determinado momento da história da nossa família, nossos costumes acabaram se misturando com outras tradições europeias e foram adaptadas, por consequência, para um idioma comum, que poderia ser entendido mais facilmente por praticantes de diferentes origens. Por isso era normal encontrar tantos feitiços com palavras em latim.

Tentei me concentrar em decorar as frases primeiro, antes de prosseguir para a parte de envolver cada uma delas em energia mágica. Sentia-me como se tivesse recebido o papel de protagonista de uma peça de teatro um dia antes da estreia, e me desesperava toda vez que errava algum trecho ou confundia a ordem dos versos. Passei o resto do dia concentrado naquela tarefa e, apenas quando começou a escurecer, decidi voltar para casa, ainda em dúvida se o progresso que eu fizera havia sido suficiente.

Ao chegar em meu quarto, verifiquei meu celular e estranhei não encontrar nenhuma notícia de Ian. Ele sequer havia visualizado a mensagem que mandei pela manhã, desejando bom dia e dizendo que estaria fora, no bosque, estudando. Fiquei realmente preocupado depois que tentei ligar para ele e não consegui; o celular estava desligado e as chamadas estavam caindo direto na caixa postal. Impaciente, enviei uma mensagem para Maia para tentar entender o que se passava.

[DAVI – 18:43]: Tem notícias do Ian? Não consigo falar com ele

[MAIA – 18:43]: Ele não tá bem não, amigo, acho melhor você dar um tempinho pra ele...

[DAVI – 18:44]: Aconteceu alguma coisa??

[MAIA – 18:44]: Mais ou menos... São meus pais... Não comenta com ninguém, por favor, mas eles decidiram se separar... O Ian não lidou muito bem com a notícia e tá arrasado...

[DAVI – 18:45]: Eu sinto muito, não fazia ideia... Será que ele gostaria que eu fosse até a cabana, pra fazer companhia?

[MAIA – 18:46]: Acho melhor não, amigo... Ele tá muito instável por conta da coleira, disse que queria ficar sozinho. Amanhã já é o evento no clube, vamos deixar ele descansar e torcer pra ele ficar melhor até lá

[DAVI – 18:46]: Se você acha melhor assim, tudo bem... Se precisarem de qualquer coisa, me avisa, ok?

[MAIA – 18:47]: Pode deixar, amigo, aviso sim. Obrigada, viu? Bjs


***


Finalmente o aguardado evento de abertura do Lacrimosa havia chegado. Leo não mentira quando dissera que anunciaria aos quatro ventos que seu clube estava finalmente de portas abertas; a divulgação tinha sido feita exaustivamente e não se falava em outra coisa em Esmeraldina. Os jovens, por motivos óbvios, estavam super empolgados. Já os mais velhos, por sua vez, comentavam sobre a festa com desconfiança, curiosos para saber que tipo de atrações estariam escondidas por trás das paredes daquele imponente galpão negro, isolado no meio da rodovia.

Nosso plano, até o momento, estava de pé. A Caçada Voraz havia recebido os convites e confirmado sua presença, bem como os pais de Ian e Maia. Isso significava que a casa da fazenda estaria livre para ser investigada. Havíamos combinado que Maia e Bárbara seriam as responsáveis por procurar por provas em meio aos pertences dos lobos, enquanto o restante de nós se misturaria ao público do clube durante a festa, para mantermos a aparência de normalidade e não despertar ainda mais suspeitas.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora