14. A vez em que um jovem órfão iniciou os estudos da magia

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A conversa com Poliana continuou martelando em minha cabeça durante o resto do dia. Não seria nada fácil convencer Maia e Inara a aceitarem a garota no clube de astronomia, mas, talvez, se eu abrisse o jogo e contasse minha real situação, elas poderiam acabar entendendo. De qualquer forma, aquele assunto teria que ser adiado pelo menos até o dia seguinte, já que Inara havia faltado.

Ao término da aula, fiz companhia a Ian enquanto ele esperava o ônibus para casa. Tentei sondar como ele estava se sentindo, sem ser muito invasivo, porém, mais uma vez, ele apenas preferiu ficar calado ao meu lado, segurando minha mão, com a cabeça recostada no meu ombro. Eu só torcia, em meu íntimo, que o tempo fosse mesmo capaz de aplacar o sofrimento que ele estava enfrentando. Já não suportava mais me sentir impotente e não saber como ajudar.


***


Ao chegar na pousada, encontrei tia Laura me esperando, no meu quarto, com o grimório de minha mãe fechado, diante de si. Contei para ela que Poliana aceitara manter meu segredo a salvo, pelo menos por enquanto, o que a deixou mais calma. Entretanto, ainda não tinha entendido o motivo da presença dela ali, naquele momento, já que não havíamos combinado nada.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, já pensando no pior.

— Não, tá tudo bem, fica tranquilo, querido — ela respondeu, sorrindo. — Apenas queria ter certeza de que você sabe algumas noções básicas de magia antes de se aventurar com o grimório da sua mãe por aí. Você mencionou ontem que chegou a treinar com o Benjamin, mas acredito que ele não tenha te passado nenhuma informação teórica sobre as energias mágicas, estou certa?

— Sim, está — confirmei, começando a me empolgar com o motivo daquela visita. — Com o Benjamin, o foco foi usar meus poderes para me defender ou atacar algum inimigo em combate — expliquei.

— Bem, então vamos deixar de lado essa parte violenta, que os homens tanto adoram, e procurar entender primeiro como as coisas funcionam em um nível mais básico, certo? — ela sugeriu.

— Sem problemas! — concordei, indo buscar um caderno e um lápis para anotar qualquer informação que eu julgasse importante. Afinal, não era todo dia que eu tinha uma aula sobre os fundamentos da magia com uma ex-bruxa (ou seja lá o que minha tia fosse).

— Então vamos começar! — ela declarou, animada. — Primeiro, é preciso entender que magia é energia. É ela que dá forças aos diferentes seres sobrenaturais e permite que coisas fantásticas sejam feitas. Logo, toda criatura mágica poderosa precisa de uma fonte de energia igualmente potente.

— Como se fosse um combustível? — perguntei.

— Sim, exatamente, como se fosse um combustível — ela confirmou. — Da mesma forma que diferentes máquinas consomem diferentes tipos de combustível, também os seres mágicos absorvem sua energia de fontes de poder distintas. É por isso, por exemplo, que dizemos que a magia dos vampiros é uma magia de sangue, porque é justamente dali que vem sua principal fonte de energia, que os mantêm vivos e os permitem fazer uso de todas as suas habilidades.

— Existem muitas fontes de poder além do sangue, tia? — eu quis saber, curioso.

— As fontes de poder mágico aparecem em formas variadas, mas elas possuem alguns tipos básicos que são imutáveis — explicou ela. — Em nosso mundo, existem cinco tipos diferentes de magia. Vou começar explicando aquela que é mais familiar a você, a magia natural.

Eu me mantinha atento a tudo que minha tia dizia e não deixava de anotar todos os detalhes, porque sabia que aquelas informações seriam úteis mais tarde. E, também, porque não deixava de me empolgar ao finalmente conhecer mais sobre aquele mundo fantástico para o qual eu fora arrastado desde que viera morar em Esmeraldina.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora