O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)

25. A vez em que uma loba dourada compareceu a uma inauguração luxuosa

Estávamos todos nervosos encarando o cenário que tínhamos diante de nós. O antigo posto de gasolina na rodovia, que passou muitos anos abandonado, havia sido completamente reconstruído e estava pronto para atender aos motoristas que passavam por ali. Mais adiante, indo além das bombas de combustível, que funcionavam a pleno vapor à nossa frente, o local que outrora fora uma pequena loja de conveniências tinha sido reformado e era agora um moderno bar lounge, com uma iluminação neon retrô e algumas mesas e cadeiras espalhadas para os clientes se acomodarem. Porém, o que chamava mais atenção era o que havia atrás desse bar.

O galpão imponente, que costumava servir como uma oficina mecânica há muito tempo, tinha sido pintado de preto do rodapé até o topo e exibia, na parte de cima, um letreiro luminoso gigante, com o nome "Lacrimosa" piscando, em letra cursiva. Logo à frente, podíamos ver a entrada do estabelecimento, uma enorme porta de cor vermelha, onde dois seguranças controlavam o fluxo dos visitantes. Fomos até lá, tentando não chamar muita atenção, e ocupamos um lugar na fila que, naquele horário, ainda não estava muito extensa. Quando chegou a nossa vez, os seguranças apenas conferiram nossos convites, nos revistaram e liberaram a entrada.

A visão do interior do espaço foi suficiente para nos deixar boquiabertos. Não havia nem sinal daquela atmosfera decadente que existia da última vez em que estivemos ali. Pelo contrário, o interior do galpão agora era uma moderna danceteria, que não ficava devendo em nada às casas noturnas que eu já tivera a oportunidade de visitar na capital. A música produzida por sintetizadores reverberava a todo o vapor e a pista de dança já estava ocupada por alguns clientes, que se movimentavam empolgados. As luzes coloridas, oriundas dos enormes lustres de cristal que pendiam do teto, refletiam nos espelhos das paredes e acabavam caindo sobre os corpos das pessoas ali presentes, que se movimentavam num aglomerado disforme, eufórico e convidativo. Aquele era o Lacrimosa.

— Como a gente faz pra achar o Leo? — perguntou Ian ao meu lado, impaciente, me fazendo lembrar do real motivo que nos levara até ali.

— Eu não faço ideia — admiti, perdida naquele ambiente. — Mas imagino que logo ele deva dar as caras, ele não perderia a inauguração de seu próprio... empreendimento, ou seja lá do que podemos chamar isso aqui...

Pouco segundos depois da nossa entrada, fomos abordados por uma das recepcionistas, uma garota com longos cabelos pretos, presos em dois rabos de cavalo no alto da sua cabeça. Ela trajava coturnos e um macacão de látex aberto na região do busto, apenas o suficiente para que pudéssemos ver o contorno de seus seios. Suas feições e a cor de sua pele, de tom pardo acobreado, me fizeram desconfiar que ela fosse procedente de algum país do Oriente Médio. Os olhos eram grandes, expressivos, bem destacados com maquiagem preta, harmonizando com os piercings que ela trazia no rosto, além dos alargadores nas orelhas. Toda a pele de seu pescoço, na região que cobria a garganta, era coberta por uma tatuagem de um morcego com as asas abertas, que contornavam a circunferência do local e quase se encontravam na sua nuca. Ela nos cumprimentou com um sorriso branco, perfeito, e uma voz calorosa, sem sotaque.

— Sejam bem-vindos ao Lacrimosa, eu sou Tatianna, sua anfitriã na noite de hoje — apresentou-se a recepcionista, me estendendo a mão. Assim que retribuí o gesto, notei o quanto sua pele estava fria, e só então caiu a ficha: a garota diante de mim muito provavelmente era uma vampira.

— Eu me chamo Maia, prazer — me apresentei. — Esses são meus amigos, Davi e Bárbara, e esse é meu irmão, Ian. Nós estamos procurando o Leo, por favor — completei, tentando ser o mais educada possível.

— Leocaster me deixou encarregada de recepcionar vocês, me acompanhem, sim? — ela nos instruiu, fazendo um sinal com a cabeça e apontando para uma porta na lateral do clube.