43. A vez em que uma loba dourada conheceu uma lenda do outro lado do mundo

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Depois da noite turbulenta que tivemos, aquele sábado foi dedicado a nos recuperar e tentar colocar a cabeça no lugar. Eu sugeri a Ian que ele evitasse procurar Davi imediatamente e deixasse para conversar com ele depois que ambos estivessem descansados e tivessem digerido melhor tudo o que tinha acontecido na boate. De qualquer forma, tínhamos uma nova reunião marcada às nove da noite e eu esperava que eles conseguissem se entender até lá. Havia assuntos mais do que urgentes para resolver e eu precisava daqueles dois em seu melhor estado.

Na fazenda, não faltaram comentários entre meus pais e os lobos do conselho sobre o evento no Lacrimosa. O consenso geral era um só: o de que vampiros eram criaturas exageradas e fúteis, que investiam muito de sua energia em prazeres carnais e que deveriam fazer um melhor uso de seus poderes. Para o meu alívio, não houve nenhum comentário conspiratório ou alguma acusação mais grave; eles apenas se dedicaram a falar mal de tudo, como um bando de velhas fofoqueiras e rancorosas. Também não notei nada de diferente no comportamento de nossos hóspedes, o que significava que, muito provavelmente, eles não tinham percebido que alguém invadira os aposentos deles e espionara suas bagagens. Até aqui, tudo bem. Só esperava poder continuar contando com essa mesma sorte nas próximas ações que eu e meus amigos do Clube da Lua decidíssemos tomar.


***


Tivemos que começar nossa reunião no Lacrimosa sem a presença de Davi. Conforme a tia dele nos revelara, meu amigo tinha ido fazer trilha com Fred na reserva e só voltaria na segunda pela manhã. Ian, obviamente, não tinha gostado nada de descobrir aquilo, mas era fácil entender o que motivara Davi a tomar tal decisão; ele apenas queria um tempo longe de tudo e de todos, principalmente porque ainda acreditava que meu irmão havia mesmo o traído com Caio. Infelizmente, aquele era um assunto que estava fora de nosso alcance naquele momento e que teria que ser resolvido depois.

— Tenho novidades interessantes — relevou Benjamin, tão logo ele iniciou sua vídeo chamada. — Os resultados das primeiras análises ficaram prontos. Descobrimos que ambos os vasos encontrados em Esmeraldina foram escondidos na mesma época. Não conseguimos determinar uma data específica ainda, mas eles certamente passaram algo entre dez e vinte anos enterrados. Estou aguardando realizarem novos exames, que ajudarão a definir a idade deles de maneira mais apurada, mas isso já é um começo.

— Isso quer dizer que o responsável por trazer os artefatos até aqui pode ter feito isso há muito tempo — concluí. — Não é nada recente, como a gente chegou a desconfiar... Então significa que não foram os lobos do conselho?

— Eu duvido muito — Ben respondeu. — Vinte anos atrás, o Bernardo tinha acabado de assumir como Grande Lobo... Esse grupo atual, que está na liderança, sequer tinha alguma função importante dentro do conselho naquele período. Lavínia e Hector ainda eram adolescentes e Conrado era um mero bebê. Eu começo a acreditar que estamos mesmo lidando com duas ameaças distintas: a primeira são as criaturas e a pessoa por trás do transporte delas até Esmeraldina; e a segunda é esse possível golpe armado pelos lobos do conselho pra substituir as lideranças das alcateias.

— Ou seja, ao que tudo indica, a gente só teve o imenso azar desses monstros aparecerem em Esmeraldina justamente quando o conselho tava procurando por uma desculpa pra tirar papai e mamãe do comando, é isso? — Ian perguntou, frustrado.

— É o que parece mais provável, diante das evidências que temos — meu irmão mais velho confirmou. — Eu ainda tenho mais algumas informações importantes sobre o vaso, se vocês me permitirem continuar — prosseguiu ele.

— Claro, vá adiante, estamos ouvindo — pediu Leo.

— Além de uma estimativa da idade, também conseguimos descobrir a procedência e o tipo de magia que ele continha. As cerâmicas utilizadas nos dois artefatos eram bem diferentes, então foi possível rastrear o material até sua provável origem. Eu já havia mencionado que o vaso da Flor Cadáver era procedente do continente africano. Esse novo vaso, no entanto, veio de outro lugar; ele veio da Ásia — revelou Benjamin. — E a magia presente nele não é magia de sangue, como Leocaster já havia apontado. Na verdade, se trata de magia animal dessa vez.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora