34. A vez em que um jovem órfão encontrou uma arma secreta

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— Poliana? Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa? — perguntei, desconfiado, sem entender o motivo daquela ligação inesperada.

— Não, Davi, não tá nada bem! — ela respondeu, com a voz claramente embargada do outro lado da linha.

— O que houve? — eu quis saber, encarando meu namorado, que prestava atenção em mim enquanto eu falava ao telefone, sem entender nada.

— Coloca no viva-voz — Ian sussurrou e eu fiz como ele pediu.

— É a minha prima, a Lia — a ruiva começou a contar. — Você não a conhece, mas ela é a única pessoa da minha família com quem eu me dou bem... Nós somos melhores amigas desde crianças e ela sempre esteve ao meu lado, principalmente quando eu não consegui me tornar uma bruxa...

— O que aconteceu com ela? — questionei, intrigado.

— Ela pegou a praga do sono! Tá internada, não acorda de jeito nenhum... — revelou Poliana, que, nessa altura da conversa, já aparentava estar chorando.

— Fica calma, onde você tá? Tem alguém com você? Precisa de alguma coisa?

— Eu tô em casa, meus pais estão comigo, não se preocupe com isso — ela garantiu. — O motivo da minha ligação é outro.

— E qual seria?

— Eu ouvi meus pais conversando com a minha irmã, hoje mais cedo. Os bruxos estão desconfiados de que a origem dessa doença seja alguma coisa sobrenatural — revelou a ruiva. — Mas eles não fazem ideia do que seja, como já era de se esperar! Por isso eu resolvi pedir sua ajuda. Não posso ficar contando com a boa vontade daquele bando de tapados! Até eles descobrirem do que se trata, pode ser tarde demais! Eu posso perder a Lia!

— Poliana, eu entendo a sua preocupação, a Inara também foi afetada e eu fiquei arrasado, mas não sei como resolver isso, de verdade — admiti, sensibilizado com a situação da garota. Era a primeira vez que eu presenciava minha colega me mostrar um lado mais vulnerável e eu sentia muito por não saber como ajudar.

— Me poupe dessa ladainha, Davi — ela me interrompeu, seca. — Você pode até não querer me contar, mas tenho certeza de que você e o seu grupinho de amigos metidos a super-heróis já devem estar tentando resolver esse problema, principalmente porque a amiga de vocês também foi afetada! Vocês conseguiram dar um jeito na Flor Cadáver, isso não deve ser nada perto dos poderes de vocês!

— Não nos superestime... — respondi, desanimado. — Se eu pudesse resolver isso, já teria dado um jeito, pode ter certeza... Mas sim, os bruxos estão certos, temos mesmo um novo inimigo, tão poderoso quanto a Flor Cadáver, e ainda não encontramos uma solução...

— Cadê seus poderes de purificação da natureza?? — ela questionou, inconformada. — Eu li sobre isso num dos livros do meu pai, quando pesquisei sobre o cernuno! Não era pra você usá-los em momentos como esse? Por que ainda não fez nada???

— Eu ainda não domino completamente meus poderes — revelei, a contragosto. — E eu preciso de um feitiço específico pra derrotar e selar essa nova criatura que tá causando a doença, só que eu não faço nem ideia de qual feitiço seja esse... Minha única esperança é que eu consiga encontrar alguma resposta no grimório da minha mãe...

— Eu quero ajudar — Poliana voltou a me interromper, decidida. — Eu já fui privada de muita coisa nessa vida. Já tive que me conformar por nascer sem magia... Não aceito perder também a minha única e melhor amiga! Eu quero participar dos planos de vocês, não vou ficar parada assistindo a tudo isso de braços cruzados!

Ian me encarou, com a expressão fechada, claramente incomodado com o rumo daquela conversa.

— Poliana, você sabe que as coisas entre nós não terminaram muito bem — eu mencionei, com cuidado. — Ok, a gente aceitou te incluir no nosso projeto de astronomia, mas aquilo era apenas uma atividade escolar, sem grandes implicações. Não sei se os meus amigos estarão dispostos a esquecer tudo o que aconteceu com os Pétalas Vermelhas e confiar em você, principalmente numa situação grave como essa...

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora