Prólogo

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Sentado do outro lado da sacristia Prior somente sentia o sabor satisfatório de ver seu "milagre" prestes a ser dado.

Queria isso.

Mais ainda, sonhava com aquela vingança durante inúmeras noites que dormiu e até nas que não.

Afinal, não era como se o vazio do abaixo do seu pênis o deixasse esquecer.

— Maldita Leoa! — O homem esbravejou entre dentes pela simples lembrança de Rafaella e do que fizera com ele a cerca de quatro semanas atrás.

Fora numa daquelas noites comuns no meio rural: Várias mulheres em volta da fogueira, moda de viola e cerveja a vontade para os homens e, para as mulheres próximas de Felipe, copos com um ingrediente surpresa.

Não, não era para que dormissem, não tinha o menor tesão pelas desacordadas, mas era fato que o pozinho diluído deixaria sua escolhida animada como ele gostava.

Naquela fatídica sexta a eleita havia sido Gizelly Bicalho. Filha de uma de suas empregadas mais caquéticas era exatamente o seu perfil: Pobre, desprotegida e, principalmente, avassaladora como um furacão.

Tudo bem que não era a melhor das dançarinas. Na festa arrancava algumas risadas por sua forma espontânea de se mover sem medo de errar um passo ou cair no meio da coreografia, mas não era em seus tropeços que Felipe prestava atenção e sim em como no meio deles mesmo os mais críticos observavam também que a mulher era absolutamente gostosa.

E Antoniazzi não era cego.

Portanto, num descuido da menina, somente depositou o efeito dentro do copo e aguardou que tudo acontecesse conforme estava acostumado.

Que a mulher se sentisse mal, ficasse vulnerável, precisasse de ajuda e... E o fim não precisava pensar com detalhes.

Na verdade Felipe adorava recordar e narrar os pormenores, porém, nesse caso em específico odiava revive-los, pois cada movimento seu naquela noite o levou a ruína do dia seguinte, a começar pela cama vazia no início da manhã.

— Onde ela se meteu? — Reviveu cada uma das quatro palavras sentado no banco de estofado barato da pequena capela em que estava.

Como sabia com precisão as palavras ditas na manhã seguinte mesmo depois de um mês? Porque foram as primeiras do dia que mudaria sua vida.

Fez tudo como sempre fazia quando estava de bom humor.

Conversou com os empregados, cuidou pessoalmente do gado e, no fim do dia, foi se dirigindo a sua casa sem muito pensar no desaparecimento atípico.

Era o princípio do incomum dentro de uma situação que costumava começar e terminar da mesma forma e isso deveria ter sido motivo de desconfiança para Felipe.

Mas naquele dia não foi.

Naquele dia ele deixou para lá o fato de que sua presa embriagada e solitária havia sumido pela manhã sem parecer querer bater contra seu peito ou espernear como as outras.

Será que Gizelly estava pensando em denuncia-lo como algumas outras já tentaram?

Lembrou da risada que soltou no caminho escuro até a sede de sua fazenda.

Se assim fosse desistiria assim que ouvisse a recusa do delegado em registrar qualquer boletim em nome de Felipe.

Lucas era seu amigo e nunca deixaria que nada o atingisse.

Era por isso que Antoniazzi Prior se pensava o dono de tudo.

Porque nem mesmo a lei poderia detê-lo.

Ou era isso que pensava até a emboscada que ocorreu quase 24 horas depois de ter levado Gizelly para cama.

Poderia pintar um quadro extremamente realista de tão gravado que estava em sua mente cada minuto vivido desde o instante em que três homens cobriram sua cabeça com um saco que deixou seu mundo complemente negro.

O homem mordeu os lábios em raiva.

Era difícil lembrar como aquele momento havia sido só o início das trevas.

Depois daquilo ficou uma noite inteira confinado num porão de cabeça para baixo com inúmeras facas afiadas passando por sua visão completamente apavorada.

Era uma espécie de quarto da tortura.

Haviam objetos cortantes de todos os tamanhos, espessuras e modelos.

Reviveu o sabor das lágrimas só de pensar.

Principalmente da primeira que derramou ao constatar que nem de longe as facas, espadas, punhais e machados eram o seu principal motivo de medo.

Ao centro da sala estava sua vizinha, a fazendeira mais rica e influente das redondezas e, portanto, a mais temida de Santo Antônio Escondido, a Leoa branca: Rafaella Kalimann.

— O que está fazendo sua louca? — O homem lembrou que perguntou e também de que não obteve mais resposta do que uma Gizelly com ira nos olhos saindo de trás da mulher loira de quase dois metros.

— Você quer fazer as honras Gi? — Rafaella questionou a menor que assentiu com a cabeça.

O último ato da noite foi arrancar sem qualquer anestesia ou hesitação cada um dos testiculos do homem com um punhal diante do seu olhar para que servissem de alimento para dois pitbulls famintos.

Os olhos de Felipe chegavam a arder outra vez só de lembrar da dor física, da humilhação e da impotência que sentiu naquela hora e também depois que descobriu a razão de tudo.

Gizelly não acordara em sua cama porque como filha de um dos seus funcionários conhecia, em partes, a sua fama de abusador de mulheres e, mesmo não conseguindo evitar ser uma de suas vítimas por estar sob efeitos de entorpecentes, foi procurar Rafa no dia seguinte.

Provavelmente foi mais por não saber a quem recorrer do que por inteligência que Gizelly fez semelhante coisa.

Mas não importava a motivação. O fato era que a furação buscou aquela Leoa e agora Prior se encontrava sem suas duas bolas e uma vingança que começaria a se concretizar em breve.

Não bateria de frente com ela.

Era menor em posses, em conhecidos e não era um idiota.

Para ele bastava com o erro de ter subestimado aquela empregadinha filha de uma puta chamada Gizelly.

Assim pensou melhor no que ia fazer , e era por aquele motivo que viajou até a cidade do lado.

Com a simples finalidade de comunicar suas pretensões ao vigário e deixar seu recado e cinco mil reais em espécie debaixo de um santo de barro apenas como forma de atrair quem precisava para acabar com a vida de Rafaella.

O mais temido matador das cinco regiões do Brasil. O que fez fama no nordeste e agora, segundo boatos, encontrou pouso no clima sudestino: O carcará do sertão...

E para surpresa do fandom começamos a tarde assim, com surpresa!

O rugido da Leoa foi nossa fic campeã e passará a ser postada a partir de hoje dividindo os dias de postagem com O Decreto.

Mamaram a novidade? Quero muitos comentários para poder continuar com a história que (modéstia à parte) é bem legal.

O rugido da leoa Onde histórias criam vida. Descubra agora