Capítulo 62

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Quando eu olho para a porta tomo um susto ao ver Christopher parado, encostado na porta e me olhando, se eu não fosse tão cética diria que ate me olha com um olhar cheio de carinho.

— Oi — ele sorri e vem em direção a cama.

— Meu deus! — coloco a mão no peito — que susto garoto — quando me dou conta da minha aparência eu estico a minha camisa até onde der pra cobrir meu corpo, apesar dele já ter visto tudo. — O que você ta fazendo aqui? — ele se senta na minha frente.

— Nossa, essa doeu — faz cara de dor colocando a mão no peito. — Vim deixar o menino Joel — cerro meus olhos e ele dá risada — tá, tá, me rendo — diz levantando as mãos — eu queria te ver... — Seu sorriso desaparece, ele fica sério.

O idiota do meu coração aquece feito lareira no inverno. Respiro fundo e desvio meu olhar, seu olhar sobre mim é perturbador.

— Eu te disse que tinha trabalho da faculdade — aponto pros livros e o notebook — e a gente já tinha combinado de se ver amanhã, por que não podia esperar? — dou uma leve risada e olho em seu rosto.

Ele está me olhando, fixamente, como se ele quisesse ver além de mim.

— Eu... — ele sorri e coça a cabeça — não sei, todos os meninos saíram e eu não fui porque eu pensei que íamos nos ver de novo, mas você falou que não podia... E além do mais eu fui um ótimo aluno na escola — ele empina o peito e eu dou risada — vai que eu posso te ajudar a tirar um dez. — ele pisca e eu jogo minha cabeça para trás rindo.

— Chris não duvido que tenha sido um ótimo aluno, mas acho que você não pode me ajudar, isso aqui é outro nível, algo bem mais complicado e você não entenderia, eu que estudo não entendo — nos dois rimos e eu fico seria — serio, valeu pela visita, mas preciso fazer isso — ele me olha e de repente desvia o olhar para meu brigadeiro.

— Então além de você me privar da sua companhia, você vai me negar provar daquele brigadeiro ali — ele aponta para o prato — que está me paquerando desde que eu cheguei — dou risada e ele faz beicinho.

— Façamos um trato, tudo bem? — ele concorda. Levanto meu mindinho — eu divido o brigadeiro com você, nós conversamos um pouco, e você vai embora pra eu poder conseguir fazer essa porcaria — ele dá risada, levanta o mindinho e cola no meu.

O simples toque dos nossos mindinhos deixou minha mão inteira formigando.

— Fechado — ele se levanta, tira os livros e se senta do meu lado. Dou risada e pego o brigadeiro, mas percebo que eu só trouxe uma colher.

— Se importa em dividir a colher? — ele me olha e sorri.

— Acho que a essa altura, não precisamos mais ter medo de compartilhar as coisas não acha? — fico vermelha e pego um pouco do brigadeiro, levando até a minha boca.

Fecho os olhos me deliciando, meu Deus, fazia tanto tempo que eu não comia brigadeiro caseiro.

Quando abro meus olhos, Chris está olhando para mim, dou risada e entrego a colher pra ele.

— Então — fala pegando chocolate — por que precisava do Joel aqui com sua amiga? — Ele leva a colher a boca e o movimento de seus lábios me faz perder a atenção por um instante.

Balanço minha cabeça e uso meu dedo para pegar um pouco do brigadeiro e levar ate a boca, chupando meu dedo.

— Não é um assunto que diz respeito a mim sabe Chris — ele lambe a colher e eu engulo no seco — é... — limpo a garganta — é Mari que vai decidir se vai contar ou não para ele, mas não é nada para se preocupar, eu só achei que a presença dele deixaria ela mais feliz, e eu acertei — tomo a colher de sua mão.

— Então você virou o cupido dos dois? — assinto colocando mais chocolate na boca — você não acha que é melhor deixar as coisas acontecerem e eles decidirem o rumo? — é impressão minha ou ele está me dando uma bronca.

— Mas estou deixando na mão deles — coloco a colher no prato — eu só chamei ele hoje, porque ela precisava de algo que eu não posso dar, um companheiro que dê a ela mais que amor e carinho, que passe confiança, que lhe diga que vai estar lá e que ela não vai ser trocada por outra! — respiro, seu rosto está um misto de confusão e surpresa. Sei que falei por mim e não por Mari, fecho meus olhos por um segundo. — Desculpa Chris, é só que... — desvio meu olhar. — O dia tem sido complicado.

— Não, tudo bem, eu entendo sua preocupação com sua amiga — ele chega mais perto, pega meu queixo com sua mão me obrigando a olhar em seus olhos — mas algo me diz que você não falava dela, o que você está querendo me esconder?

Eu escondo que te amo.

— Não é nada — solto meu rosto — mas e você, o que você esconde? — ele sorri e pega mais chocolate.

— Eu não escondo nada, nem se eu quisesse — ele sorri, mas fico seria, deve ser um inferno não ter privacidade.

— Deve ser ruim não poder ter privacidade, eu realmente não consigo me imaginar fazendo o que vocês fazem, é algo maravilhoso, mas tem um grande peso — ele fica sério e coloca a colher no prato.

— Existe sim alguns momentos ruins, mas nada é perfeito, pensa comigo — ele umedece os lábios e fico mais atenta que o normal — um escritor, tem momentos da vida dele que não consegue escrever, mas mesmo assim ele não desiste porque é o que ele ama fazer — eu sorrio — eu amo o que faço, somente a morte me fará parar — vejo a paixão nos seus olhos, me pergunto se fico assim quando estou escrevendo.

Pego a colher e pego um pouco para mim.

— Eu não seria a única a matar vocês, se vocês desistissem disso tudo — levo o chocolate ate a boca — mas sério, deve ter algo que você esconde e ninguém sabe, todo mundo tem segredos — ele sorri.

— Faremos um trato ok? — dou risada e concordo — eu te conto um segredo que ninguém sabe e você me conta outro, fechado? — ele levanta o mindinho, levanto o meu e junto ao dele. — bom — ele respira fundo — muitas pessoas acham que meu pai morreu — na mesma hora paro de comer — mas ele nunca esteve tão vivo, ele apenas saiu da minha vida e da minha mãe para construir uma nova com outra mulher. — Olho para ele, posso ver o quanto está machucando-o falar sobre isso. Pego em seu braço.

— Não precisa falar mais, foi o bastante, sério — ele pega minha mão e entrelaça nossos dedos, sorrindo.

— Eu não falo com ele desde que ele foi embora — ele dá um riso fraco olhando para nossos dedos — acho que todo filho ou filha quer ver seus pais juntos pelo resto da vida sabe, acho que isso dá um exemplo do que realmente é o amor — ele olha nos meus olhos que provavelmente estão cheios de lagrimas — mas eu não tive isso, acho que por isso não consigo me apegar as pessoas por completo, nem confiar cem por cento. — Meu coração dói, se aperta, ao ver ele assim, frágil, quebrado de certa forma. — Sua vez — ele pega mais chocolate, nossas mãos continuam juntas.

— É — limpo a garganta e respiro fundo — quando eu era pequena, era muito carinhosa, muito mesmo, então teve um dia que tudo mudou — respiro fundo — meu pai chegou em casa bêbado, cansado como sempre do trabalho, eu estava no meu quarto, então comecei a ouvir os gritos dos dois — ele aperta minha mão — desci e fui ver o que estava acontecendo, quando cheguei na cozinha, foi exatamente no momento em que meu pai deu um tapa na minha mãe — sinto as lagrimas se formando, pisco algumas vezes — então, eu corri, fiquei entre os dois e disse "papai não bate na mamãe" ele me puxou pelo braço e disse "quer apanhar também? Se não quer, não se meta! Você ter entrado nas nossas vidas foi a pior coisa de nossas vidas" — sinto uma lagrima escorrer pelo meu rosto, eu a limpo — eu corri pro meu quarto e naquela noite agarrada com meu ursinho eu prometi que nunca mais ia amar ninguém, porque se fosse pra amar alguém e sofrer daquele jeito, preferiria morrer sozinha. — Fungo e sorrio para ele — é isso. — Eu o olho e ele vem ate mim e me beija, um beijo calmo, cheio de ternura, respeito.

— Sinto muito — ele cola nossas testas e acaricia minha bochecha.

A Fantasia de uma Fã - Livro 1 (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora