Capítulo 24

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Antes de irmos para casa, Mari insistiu em comprar algumas coisas, ela disse que não queria depender totalmente de mim, isso é ridículo, porque eu dependo mais dela do que ela de mim.

Eu disse a ela que ia ficar no carro, dei a desculpa de estar com preguiça, mas eu não sei porque, me bateu uma tristeza, uma sensação de perda.

O céu está lindo, um azul cor de oceano, com nuvens espaçadas, e o sol timidamente aparece entre elas.

Olhar para o céu me traz um pouco de paz, mas não o suficiente, eu sei do que eu preciso, é como uma droga pra mim, eu sou viciada, e não aceito tratamento, eu preciso dele, preciso ouvir sua voz, senti-lo perto de mim.

Pego meu celular, conecto ao som do carro, e coloco para tocar Kilómetros, de Sin Bandera, mas na voz de Christopher.

A varios cientos de kilómetros
Puede tu voz darme calor
Igual que un sol
Y siento como un cambio armónico
Va componiendo una canción
En mi interior

Quando sua voz invade o carro e meus ouvidos, fecho meus olhos, e imagino seu olhar direcionado para mim, imagino como seria tocar de verdade seu corpo, seus lábios, ver de perto seu sorriso, eu amo tanto, ele me traz uma paz.

Quando abro meus olhos eu sinto aquela sensação novamente, uma tristeza inexplicável, me deixo levar por ela, choro, choro sem sentido, sem explicação, só sei que chorar, vai aliviar a pressão no meu peito. A cada palavra dele, a cada lágrima derramada me sinto mais leve.

— Ei — Mari volta e me puxa pra um abraço desligando o som — o que foi que aconteceu enquanto eu saí? — ela alisa meu braço e me abraça me dando conforto. Soluçando eu respondo.

— Eu não sei — limpo meus olhos — de repente eu senti um aperto no peito, uma sensação de tristeza — cubro meu rosto com as mãos e choro — e depois eu coloquei uma música pra ouvir a voz dele, mas comecei a chorar — ela alisa minhas costas.

— Calma, calma — ela me levanta — olha, não sei o que você tá sentindo, nem imagino, mas saiba que você não tá passando por isso sozinha. Cami, vai ficar tudo bem, eu prometo — eu assinto e ela limpa meu rosto com a mão — agora vamos, vamos ver um filme e engordar juntas — dou risada — e a noite nos damos uma volta, tá? — assinto novamente.

Ela liga o carro e fomos para casa.

Chegamos rápido, ela foi em direção a cozinha guardar algumas coisas que tinha comprado e colocar os chocolates e salgadinhos em tigelas pra vermos o filme.

Mas eu ainda me sinto mal, não sei explicar, mas não é uma sensação boa, me sentia vazia, como se faltasse um pedaço de mim mesma.

O que aconteceu?

Me levanto e vou em direção ao meu quarto.

— Vou tomar um banho, escolhe o filme — não dou tempo para ele me responder ou me fazer perguntas.

Entro no banheiro e olho para meu reflexo, o pouco de maquiagem que coloquei está manhã está completamente horrível, já não existe corretivo, e a máscara de cílios me deixou parecendo um Pandinha.

Eu me olho e não me reconheço, estou parecendo a menina que um dia já fui, doce, carinhosa, meiga, sensível e fraca.

Sim, eu era fraca antes dos meus pais me deixarem aqui sozinha, eu não os perdoei por isso, nem por aquele dia, nem sei se serei capaz de perdoar um dia.

A vida me tornou fria, dura, insensível, forte, grossa, essa sou eu, não voltarei a ser aquela menininha, nunca mais.

Limpo meu rosto, tomo um banho rápido, visto um short e uma camiseta, e vou pra sala ver se está tudo pronto. Mari está brigando com o pacote de pipoca, é engraçado como ela não tem talento pra cozinha. Chego em seu socorro.

— Me dá isso — tomo o saquinho dela e abro rapidamente, colocando o pacote no micro-ondas — que filme você quer ver?

— Qualquer um — me viro para ela e ela está olhando pra mim

— Eu estou bem — me viro para pegar as tigelas de chocolate e amendoim — foi só um momento, já passou — vou em direção a sala.

— O que te deixou daquele jeito Cami? Você geralmente não fica daquele jeito — da cozinha ela me analisa e me questiona.

— Não sei — coloco as tigelas na mesinha, pego meu celular na minha bolsa e sento no sofá pra zapear a Netflix — foi só um momento, já passou esquece tá? Eu só estou assim porque estou perto de menstruar lembra, só espero que essa droga não venha no dia do show. — Ah é, odeio meu ciclo menstrual.

— Tá — sei que ela está preocupada, mas sabe que não vou conversar sobre o assunto — vou tomar um banho também, fica de olho na pipoca — ela sai em direção ao quarto e nesse momento meu celular apita.

É o Arthur.

Tem um tempinho pra mim na sua agenda?

Dou risada da sua piada, vou entrar na brincadeira também.

Olha, preciso checar estou completamente sem tempo, são muitos para atender. Mas eu faço um esforço pra te encaixar. O que desejas?

Nossa, obrigado, me sinto até importante. KKKK, eu percebi que eu não sei muito sobre você
Vamos conte-me seus segredos.

Não tenho segredos, odeio mentiras tanto quanto segredos. Para mim segredos são como mentiras. Mas o que realmente você quer saber Arthur?

Agora fiquei curioso, porque odeia segredos? E porque acha que segredos e mentiras são a mesma coisa?

Você esconde, você omite, para mim é o mesmo. E você, quais são seus segredos?

Não tenho segredos, minha vida é um livro aberto. Quais são seus sonhos?

Eu curso relações públicas, não gosto do curso, mas é o que eu pretendo trabalhar pra me tornar independente, que é um dos meus maiores sonhos.

Se não gosta do curso, porque cursa? Porque não faz o que você gosta?

Pela minha mãe. O que eu gosto não é tão fácil de acontecer, pelo menos não agora.

Sua mãe pega no seu pé é? E que sonho é esse que é tão impossível?

Foi a última vontade dela. Eu escrevo, bom, pelo menos escrevia, mas era uma coisa fantasiosa.

Sinto muito pela sua mãe. Mas seu pai não te apoia nos seus sonhos?

Os dois morreram quando eu tinha 16 anos. Em um acidente de carro.

Desculpa, sinto muito tocar no assunto. Eu não sabia

De repente um cheiro me tira atenção do celular, meu Deus a pipoca tá pegando fogo.!

Corro pra cozinha, desligo o fogo e jogo a panela na pia, tusso com a fumaça e o cheiro provavelmente chamou a atenção de Mari, porque ela veio com metade do cabelo penteado feito uma louca pra cozinha.

— O que foi que aconteceu? — ela olha pra mim.

— A pipoca pegou fogo — pego o pacote com a pontinha dos dedos e jogo a coitada da pipoca carbonizada no lixo.

— Depois o desastre na cozinha sou eu né — ela dá risada e volta a pentear o cabelo.

— Hahaha, eu só estava distraída — foi o suficiente para chamar a atenção dela novamente.

— Com o quê? Aliás, com quem? — ela estreita os olhos

— Estava conversando com Arthur — reviro meus olhos para sua cara — sem piadinhas viu — vou para a sala — anda, vem logo vamos ver o filme.

— Tá, tá, já estou indo, deixa só eu terminar de pentear meu cabelo — ela volta para o quarto. Pego novamente meu celular.

Não tem problema. E seus pais? Apoiam que você seja cantor e leve essa vida de fama?

Sim, na verdade minha mãe, minha avó, minha família inteira me apoia bastante. Qual sua comida preferida?

A Fantasia de uma Fã - Livro 1 (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora