25. Norberto

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6 MESES ANTES DOS CRIMES

Norberto já estava cansado de explicar e repetir aos policiais lesados o que estava acontecendo. Afirmou repetidas vezes que May não desapareceria assim do nada sem avisar alguém. E o policial mal-humorado insistia dizendo que ainda não havia dado o tempo mínimo de ausência para caracterizar o sumiço de May como um desaparecimento. Pensou em dizer que sabia muito bem disso porque já fizera parte da corporação policial, mas claro, se o fizesse, daria "munição" para o outro ter mais razão ainda. A paciência diminuiu enquanto o nervosismo aumentou. Norberto queria voar no pescoço do policial metido a besta.

Por sorte, Rodrigo estava ali amparando e corroborando com ele: "Tal comportamento não pertence à May! Alguma coisa aconteceu com ela."

— Vamos averiguar. Caso existam sinais de arrombamento a gente toma as provid...

Norberto gritou, cuspindo:

— Que horas farão isso? Até decidirem agir, ela já pode estar morta!!!

Rodrigo, eficaz como sempre, segurou Norberto pelo ombro e o afastou usando o peso do corpo antes que ele fosse preso por desacato à autoridade.

— Quer ser preso? Imagina só: Ex-policial preso por desacatar um policial!

— Na minha época os policiais eram mais espertos e mais ávidos, porra!

— Eu sei que você conhece todos os procedimentos, mas você não é mais policial faz anos. Então, venha, deixem eles trabalhar, por favor.

Norberto bufou pela terceira vez em silêncio, na tentativa de acalmar os nervos. Rodrigo, com muito custo, o convenceu a ir embora para casa e deixar os policiais cuidarem de tudo.

— Não há nada que possamos fazer agora, vamos aguardar. — Rodrigo tentou tranquilizá-lo, ainda se dando ao trabalho de dizer todos aqueles clichês do pacote: "Vai ficar tudo bem".

Norberto, menos eufórico, percebeu que Rodrigo também estava desesperado, porém, ainda assim, o rapaz mantinha-se firme e tentava acalmá-lo de qualquer jeito, como um "homem de verdade" faria. Norberto imaginou, naquele instante o quanto Rodrigo se preocupava com May, pois o corpo dele tremia da cabeça aos pés, de tão nervoso.

— Quer que eu o leve para casa? — perguntou Rodrigo, solícito, pondo a mão mais uma vez sobre o ombro de Norberto, como se fosse puxá-lo para um abraço de irmão. Norberto precisava do abraço, mas claro, não diria, tampouco pediria. Apenas assentiu com a cabeça. — Que bom, você não está em condições de dirigir.

Você também não. Manteve-se quieto.

Nesta hora ele entendeu o motivo pelo qual May sempre defendia aquele jovem e sempre o mantinha por perto, apesar do jeitão malandro dele... É uma boa pessoa.

Eles entraram no carro. Rodrigo grudou seu celular no suporte eletromagnético fixado no painel do carro, como de hábito. Até que desse partida e saísse dali, Norberto ficou com o pescoço torcido assistindo os movimentos lentos dos policiais em frente à editora.

De vez em quando mordia os nós dos dedos, num acesso nervoso.

O celular de Rodrigo vibrou na base. Acendeu o visor e mostrou uma chamada de um número marcado automaticamente como "Desconhecido". Rodrigo deslizou o dedo na tela do aparelho e encerrou a chamada.

E assim, o silêncio dentro do carro era o único a falar.

Norberto queria se desfazer em lágrimas. No entanto, não na frente de Rodrigo. Precisava se livrar daquele desespero, porém, aguentou firme e engoliu o choro com a saliva salgada.

Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]Onde histórias criam vida. Descubra agora