5 DIAS DEPOIS DOS CRIMES
26/02/17 – domingo, 09h00
— Agradeço a sua disposição em estar aqui em pleno o domingo para contribuir com as investigações — disse Olívia, apontando a única cadeira vazia em sua frente, quando Rodrigo entrou na sala de interrogatórios.
Rodrigo notou que a sala estava quente, e não gelada como da última vez.
— Estou a disposição de vocês, detetive Olívia, podem contar comigo. — Rodrigo sentou-se na cadeira. Só depois de acomodado é que se deu conta da ironia na fala dela, afinal, o que poderia acontecer se ele recusasse o "convite" da polícia?
Estava de frente com a investigadora. Lutava em demonstrar calma e, por isso, deixou as mãos pousadas no colo para esconder a leve tremedeira que poderia revelar o contrário sobre seu estado.
— Vamos começar — avisou ela. Segurava o gravador já ligado numa das mãos quando começou a narrar o dia, a hora e o nome do depoente. Depois deixou o gravador em cima da mesinha, mais próximo de Rodrigo do que dela. Assumiu um tom mais sério e deu início: — Obtivemos algumas informações novas e importantes durante esses dias. Pedimos para que comparecesse à delegacia com o intuito de, juntos, esclarecer alguns dos fatos mais recentes.
— Sim.
— Pois bem, farei perguntas objetivas para não estendermos muito por aqui.
— Aham, tudo bem. — Rodrigo sentiu as pontas dos dedos gelados em suas coxas, mesmo que o ambiente estivesse um forno. Devo me preocupar por ela querer que isso acabe rápido?
— Logo mais chegaremos ao seu primeiro depoimento sobre o suicídio de Norberto — antecipou ela —, mas primeiro, gostaria de voltar um pouquinho no tempo — falou sorrindo — e ver se você pode corroborar com alguns detalhes sobre o que poderia ter acontecido antes dos assassinatos.
— Ok. — Rodrigo chupou o lábio inferior.
— Vamos lá. Possivelmente, os crimes originaram da descoberta da editora, mais conhecida como May, sobre a traição que o marido dela estava cometendo. Ela chegou a conversar com você sobre isso?
Rodrigo se ajeitou na cadeira. Limpou a garganta para começar a falar frases mais extensas:
— Bom, agora, vendo em retrospectiva, posso dizer que May se mostrou um pouco mais agitada que o normal, sim, algumas semanas antes de todo esse reboliço acontecer.
— Ela chegou a contar que desconfiava do marido, ou que tinha certeza de alguma coisa?
— Ehm... Para mim ela não falou, especificamente, o que incomodava ela, entende? Ela parecia apenas, sei lá, eu diria: desconfiada, isso. Mas, acredito que o motivo era Laura, uma das funcionárias lá da editora.
— Laura?
Um turbilhão de imagens passou pela cabeça de Rodrigo sobre toda a confusão que havia acontecido no almoxarifado naquela noite. Por pouco não fora descoberto por Laura, entalado dentro de um armarinho como um bichano ameaçado.
— Sim, Laura. — E antes que revelasse mais informações sobre ela, com o intuito de não se complicar mais ainda, ele parou por aí. — É que May achava que Norberto estava de olho nela, e enfim, agora sabemos que não, não é mesmo? May chegou a implicar um pouco sobre quem iria acompanhar Norberto no evento da PAPGRAF deste ano. Inicialmente, era Laura quem ia, mas depois, May, pobre coitada, não desconfiando que era apenas uma manobra de Norberto, trocou Laura por Nicolas. — Rodrigo deu uma breve gargalhada nervosa. — Veja só. Enfim, faz duas ou três semanas isso, não me lembro direito.

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Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]
Mistero / Thriller(LIVRO COMPLETO) | VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS2020 | Categoria: Mistério & Suspense Do que você seria capaz para publicar seu livro? O jovem escritor, Micael - consumido pela ambição de ter seu livro aceito pela editora-chefe da Hora de Ler -, aparece...