49. Cris

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DIA DOS CRIMES

21/02/17 – terça-feira, 20h49

O corpo de Cris reagia como se fosse apenas um coração. Pulsava; bombava. O suor lhe tomava toda a extensão corporal, suas roupas grudavam nele.

— Nós o matamos... — repetiu Laura.

Cris fez apenas que sim com a cabeça.

— E agora? E agora, Cris do céu?!

Ele também queria saber, porém, para poder pensar melhor o que desejava naquele instante era que Laura calasse a maldita boca e ajudasse a resolver o problema.

Recuperando-se do choque, decidiu, para ter certeza, chutar de leve a perna do homem caído. Ela apenas balançou com o pequeno empurrão e parou.

Repetiu o golpe, desta vez com mais força.

Mesma coisa: coisa alguma.

Inegavelmente Norberto estava morto. Laura havia o matado com um único golpe.

O inofensivo furador de papéis, pesado e de metal, havia se transformado numa arma letal nas delicadas mãos de Laura. Havia virado um "fura-crânios".

— Eu sou uma... uma assassina? Meu Deus, Cris, precisamos pensar no que fazer! Me ajuda! Me ajuda!

— Eu não sei! — gritou ele, mostrando-se raivoso pela primeira vez e causando espanto a ela. — Seremos considerados assassinos. Que droga!

Ela recuou alguns passos, chorando. Ele chegou perto dela e abraçou-a, desprezando o fato de estar pegajoso e cheirando a suor. Quis torná-la forte, mas ele próprio estava sem forças. Nunca haviam se abraçado antes, nem nas confraternizações, eram só apertos de mão. E agora, além de meros colegas de trabalho, eram parceiros de crime.

Laura só sabia ficar espantada e chorando. E ele? Ele estava fazendo o quê? Precisamos fugir! Não há mais nada o que fazer aqui! Ele desejou que Laura fosse tão astuta quanto foi ao golpear Norberto para pensar em algo que pudesse salvá-los. Ela havia agido apenas por desespero e que era ele quem precisava fazer algo agora, mas será que conseguiria?

Ao menos teria que tentar. Desfez o abraço e disse:

— Venha, vamos. Temos que fugir, Laura!

Ela concordou. Correram o mais rápido que puderam escadaria acima. Fecharam a porta com uma batida forte e abandonaram o corpo lá embaixo.

Cris guiou-a até a saída do escritório, repassando rapidamente o que acabara de acontecer. E o que acabara de acontecer era o seguinte: Laura salvou sua vida. Norberto tinha ido para cima dele para matá-lo, não restavam dúvidas. Porém, mesmo assim, a sensação em nada se parecia com gratidão, o que sentia era o mais puro desespero.

Quando chegaram no térreo, na recepção, Laura olhou para o rosto dele e disse:

— Cris, seu rosto...

Mesmo assustado, ele entendeu:

— Ai, meu Deus... Droga! Vou ter que limpar minha cara, espere aqui, já volto. — E entrou no banheiro da recepção. Lavou o rosto e secou com papel toalha, fez tudo isso muito rápido. Encontrou Laura na mesma posição que havia a deixado. O olhar dela estava perdido. — Agora vamos!

Laura recuperou o controle sobre seu próprio corpo e, já na saída da recepção, os dois puseram-se a correr.

— A porta... deixamos ela aberta. — Laura parou e arregalou os olhos.

Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]Onde histórias criam vida. Descubra agora