72. May

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DIAS ATUAIS

... ela ainda sonhava com as mesmas coisas. As mesmas imagens a assombravam todos os dias. Em seus pesadelos, Olívia e Francis apareciam sempre lhe dando facadas no peito e um tiro na boca, mas nada disso fazia com que ela morresse. Norberto e Nicolas transavam freneticamente ao seu lado e gemiam alto enquanto ela ficava agonizando no chão do almoxarifado por horas. Queria morrer sempre que despertava assustada e suada. E queria morrer toda hora que tinha que dormir e reviver o pesadelo em looping.

Desde então, permanecia sozinha. Apenas acompanhada de sua depressão e dos medicamentos de uso controlado que seguiriam-na pelo resto de sua miserável vida. Perguntava-se todos os dias se ainda valia a pena viver. Afinal, sua vingança só lhe trouxera demônios. Ela só era doce nos romances e nos filmes; apenas na ficção... Tinha medo de ficar louca, ao mesmo tempo que tinha certeza de que estava ficando.

... e será que algum dia, no futuro, algum jornalista investigativo xafurdaria o passado e descobriria, junto a polícia, todos os furos do caso e revelariam que uma boa parte dos seus relatos comprovando e reforçando sua inocência na própria biografia não passavam de uma grande mentira? May seria odiada para sempre se isso acontecesse. A Netflix ou a Amazon compraria os direitos autorais dessa possível reviravolta e transformaria em mais um documentário para compor o catálogo de "true crime"? May achava que não. E acima de tudo, desejava que não.

Porém, quando, e se, acontecesse; quando, e se, chegasse o dia, ela já saberia como resolver. E ninguém precisaria forjar nada, ela mesma cuidaria de deixar a cena digna de um final de livro.



FIM





Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]Onde histórias criam vida. Descubra agora