51. Cris

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DIA DOS CRIMES

21/02/17 – terça-feira, 21h00

Estamos mesmo prestes a fazer isso? Buscava alguma epifania entre os olhares aflitos trocados com Laura, porém, a resposta silenciosa que obteve dos olhos dela foi um "Sim".

Marchavam carregando expressões assustadas. A sorte era que não havia movimento algum na rua. Nenhum carro, nenhum pedestre, afinal, era uma rua apinhada de estabelecimentos comerciais e todos já haviam fechados suas portas há horas. Contudo, Cris não sabia se deveria sentir-se feliz por, supostamente, não haver testemunhas da loucura que estavam prestes a cometer, ou triste por terem que lidar com aquilo sozinhos, em segredo. Só podemos estar loucos para obedecer esses comandos!

Laura, por estar de saltos altos, sofria mais para correr nas calçadas irregulares. De repente Cris a viu levar o celular à orelha.

— O que pensa que está fazendo?

Laura primeiro fez um gesto: espalmou a outra mão para cima. Stop! E apontou com o indicador para o celular. Estou no meio de uma ligação. Ela sussurrou:

— Estou ligando.

— Para...?

— Para o número, caramba! É claro! Mas acontece que essa merda não chama.

— Claro que não vai chamar, Laura! — A voz dele havia saído mais alta do que planejado. — Ou você acha mesmo que alguém vai atender e dizer: "Alô! Oi, então, eu sei que vocês...

— Xiiiiuuu! — Fez Laura, silenciando os lábios com o indicador.

Ele deu trégua aos passos trôpegos. Ela continuou correndo, aos pulinhos, deixando ele para trás.

— Ei! Atenderam?

Ela parou, olhou para trás e disse:

— Claro que não. E anda! — Recomeçou a corridinha. — Eu só o calei para que não dissesse besteira! — explicou ela.

Cris pensou em rebater, perguntando: "Besteira?" O que fizemos não foi apenas uma besteira, foi uma baita de uma merda séria!, mas se conteve.

— E se respondermos a mensagem? — Cris hesitou, antes de atravessar o portão semiaberto da editora, estava como haviam deixado.

— Deixe-me pensar. Ótima ideia, assim teriam mais uma prova contra a gente! — ironizou ela.

— E você acha que ligando para o número não estaríamos deixando um rastro também?

— Sim, faz sentido. Agi por impulso, me desculpe — Laura acatou. — Estou tão nervosa quanto você!

Em suas cabeças pipocavam milhares de dúvidas, agiam sem saber exatamente como agir. A única certeza que compartilhavam era a de que haviam sido vistos por alguém que de alguma forma havia testemunhado o assassinato. Quem poderia ter visto a gente, droga?! Será que querem realmente nos ajudar? Cris passou pelo portão.

— Laura, acha que estão nos ajudando?

— Estou entrando em colapso. Não tenho mais cabeça para pensar em mais nada lógico hoje. Isso pode ser o nosso fim, Cris. Se não der certo... não conseguiremos nos safar...

Desfizeram o contato visual e fitaram o chão, silenciosos.

— Será que vão chamar a polícia enquanto estivermos aqui? Pode ser uma emboscada para nos pegar no flagra!

— Não sei, Cris! — Laura espiou mais uma vez a rua. Sua testa enrugou.

— É impressão minha ou tinha um carro parado ali na rua quando saímos...?

Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]Onde histórias criam vida. Descubra agora