6 MESES ANTES DOS CRIMES
Era mísera e falha a tentativa de saber o que os dois estavam tramando aos sussurros na outra extremidade do galpão. Ao menos haviam deixado ela enxergar.
Perscrutou o lugar com os olhos. Parecia uma oficina mecânica...
... no meio do nada?
... abandonada.
Desdenhou da descoberta, apesar do maquinário, ferramentas e o cheiro grudento do óleo. Isso aqui está mais com cara de... Um "desmanche" de carros!
Bingo! Antes que pudesse se vangloriar pela brilhante descoberta viu os dois se aproximando e um deles falando ao telefone. Ao telefone dela!
Vão me deixar falar com alguém! Claro, eles querem provar que estão comigo!
Ela acertou, contudo, não foi como tinha imaginado.
De relance viu o nome e a foto de Norberto no visor apontado para ela. Finalmente falaria com seu marido e avisaria que ainda estava viva. Primeiro passou por sua cabeça implorar para que ele obedecesse e fizesse tudo que eles mandaram-no fazer, porém, num lampejo de razão, achou melhor não ser tão egocêntrica (mesmo naquela situação) e diria para ele fazer tudo ao contrário.
Sem aviso, ela sentiu uma mão forte puxando seus cabelos para trás com violência.
O grito não ultrapassou a mordaça de pano, mas quando a outra mão do chefe arrancou com força o tecido esfarrapado, saiu da garganta dela um guincho de dor causado pelos puxarrancos nos cabelos. Nem a menos pôde gritar por "Socorro!" Nenhuma palavra saiu e sua boca fora lacrada novamente com a mesma rapidez e brutalidade.
Tossiu como pôde; soluçou como deu.
O chefe a soltou e os dois se afastaram, ainda segurando o telefone dela.
Agora, além das pernas formigando, sentia seu couro cabeludo pinicando e seus lábios ardendo.
*****
A agressão fez com que ela perdesse a noção do tempo no meio daquele silêncio. Era incapaz de decifrar as ações dos homens, muito menos prever o que faria. A situação era desfavorável, perdera a fé de sair dali.
Quase delirando, pensou em se jogar para trás imitando uma de suas personagens com o intuito de quebrar a cadeira e afrouxar os cordões, porém, a coragem que juntou não era suficiente, e o máximo que conseguiria com aquilo, seriam hematomas nas costas e uma batida de cabeça no chão. A cadeira ficcional onde sua heroína estivera presa, já estava gasta e quebrada. A "dela" era de madeira grossa, firme. A ideia de estatelar as costas no chão pareceu uma besteira sem tamanho, sem falar que esmagaria suas mãos.
Alguns minutos depois, para a surpresa dela (e ao que pareceu: para a surpresa dos dois bandidos) ela ouviu um ruído de pedras lá fora.
O som indicava a chegada de... Um carro!
Minha chance, pensou, contudo, não conseguia gritar nem se mexer. Nem seu peso era suficiente para bater os pés da cadeira e emitir um ruído de socorro.
Mas... E se for mais algum deles?
Poderia ser. Restava esperar.
Ouviu os dois homens irem ao portão às carreiras. Ficou assustada. Poderia ser qualquer pessoa. Vinda para o bem, ou para o mal.
A dupla espiou por uma brecha, e saíram.
Antes da porta de ferro fechar, ela pôde ver dois feixes de luz cruzando o ar negro da noite.
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Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]
Mystery / Thriller(LIVRO COMPLETO) | VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS2020 | Categoria: Mistério & Suspense Do que você seria capaz para publicar seu livro? O jovem escritor, Micael - consumido pela ambição de ter seu livro aceito pela editora-chefe da Hora de Ler -, aparece...