Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]

67. Detetives

5 DIAS DEPOIS DOS CRIMES

26/02/17 – domingo, 09h20

A pergunta de Rodrigo ainda pairava no ar. Olívia olhou mais uma vez para o espelho, como se pudesse fazer contato visual com Francis.

A porta se abriu com estrondo. Francis entrou em cena, deu a volta na mesa, ficou de pé ao lado de Olívia, colocou as mãos na cintura, indignado, e perguntou:

— Você sabe que se vasculharmos bem essa história, iremos encontrar a verdade sem precisar fazer um acordo com você, não sabe?!

Rodrigo ficou assustado com os gritos do detetive Francis.

— Escuta aqui, sequestradorzinho de merda. Você já confessou que esteve na cena do crime número 1, e depois que você saiu de lá, do apartamento de Nicolas, você foi encontrar o mandante do crime, o Norberto, na editora, exatamente onde ele foi encontrado morto e que configura a cena do crime número 2. Então, acha mesmo que vamos cair nesse seu papinho furado de merda de que pode ter havido outra pessoa envolvida nisso tudo? Acha mesmo que somos tão idiotas quanto você?! Até mesmo sua versão do suicídio não faz mais nenhum sentido. Virou pó. É lixo! Você mesmo acabou de se complicar mais ainda dizendo que sabe que não foi suicídio, cara! Você está ferrado! E só está querendo ganhar tempo para inventar mentiras e dar um jeito de se safar de tudo isso!

— Não, porra! — gritou Rodrigo, porém, antes de dizer mais alguma coisa...

— Podem levá-lo — autorizou Olívia.

Os mesmos guardas entraram em cena e levaram Rodrigo esperneando e gritando palavrões para alguma cela provisória.

Depois da cena miserável, os dois investigadores bufaram, e tentaram acalmar os ânimos.

— Agora que metemos a pressão nele — começou Francis —, quem você acha que já estava lá antes de ele chegar?

— Meu palpite é o mesmo que o seu — disse Olívia. — Micael.

— Na mosca.

— Parece que esse cara está sempre no centro das cagadas.

— Pois é — disse ele, com a expressão cansada no rosto.

— Rodrigo está falando a verdade. — Olívia deu um longo suspiro e inclinou-se na mesa para desligar o gravador. — Pelo menos temos muita coisa agora para nos debruçarmos. As coisas estão começando a fazer mais sentido. Depois de tudo que Rodrigo causou na vida de May não está merecendo um acordo. Então, vamos fazer o seguinte — propôs Olívia —, deixaremos Rodrigo aqui na prisão preventiva enquanto colheremos provas contra Micael, pois, algo me diz que, se a gente espremer mais ele, muitas coisas vão sair. E nem preciso dizer que é intuição feminina. — Sorriu. — Rodrigo nos deu o caminho de "lambuja".

Em seguida, os dois rumaram para o grande arquivo do DP. E, sentados numa mesa, debruçaram-se nos depoimentos dos vizinhos de Nicolas, coletados pelos auxiliares da perícia no dia vinte e um de fevereiro. Interpelariam Micael com o máximo de provas que conseguissem.

Depois de quase meia hora, Francis leu um depoimento breve de um casal de senhores, e disse:

— Aqui, achei algo que os investigadores auxiliares não nos mostraram direito. É um depoimento de um casal de idosos, vizinhos de Nicolas. Segundo eles, alguns minutos antes de a polícia receber a denúncia anônima, viram dois homens saindo do apartamento de Nicolas. Um já era mais conhecido, mas o outro era um completo estranho.

— Será que foram os velhinhos mesmos que fizeram a denúncia? Será que entraram no apartamento de Nicolas, curiosos, e viram tudo aquilo?

— Não sei dizer, mas aposto que "o conhecido" era Micael e "o estranho" era Rodrigo. — Francis coçou o queixo.

— O que mais me intriga agora é o fato de eles estarem juntos — disse Olívia.

— Sim.

— Já sabemos o que fazer agora.

— Sim. — Francis levantou-se primeiro. — Deixa que eu me encarrego de imprimir as fotos. Você acha que o casal de velhinhos vão reconhecê-los de primeira?

— Ah, espero que sim. Estou louca para pesar as mãos nesses canalhas!