68. Olívia

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9 DIAS DEPOIS DOS CRIMES

02/03/17 – quinta-feira, 18h00

Um dia depois da quarta-feira de cinzas o mundo pareceu dar início ao cotidiano comum. A cidade começava a receber de volta os foliões que estavam espalhados pelos diversos cantos do país, principalmente nos litorais. A vida normal ia começar, afinal, era famosa a frase: "No Brasil: O ano só começa depois do Carnaval". Profissionais dos serviços públicos essenciais desconheciam a validade da frase. A equipe investigativa da polícia também não fazia parte da paralisação hipotética do país e por este motivo, novas informações chegaram, foram avaliadas e fundamentaram resultados bastante conclusivos sobre o caso envolvendo o duplo assassinato em Sorocaba.

O delegado solicitou que no final do expediente do dia 02 de março, um dos dois detetives encarregados do caso da Editora Hora de Ler lhe apresentasse as novidades e conclusões até o momento. Francis e Olívia conversaram e discutiram sobre quem seria o porta-voz neste dia. Olívia acabou por convencer Francis a ir embora, descansar e ficar com a família, que ela se encarregaria de apresentar o relatório e responder as perguntas dele depois que ele lesse o inquérito com tudo o que foi apurado até o momento.

— Assim que o delegado me liberar, mando mensagem para você e deixo você a par de tudo. Tenho certeza de que ele vai avaliar positivamente a evolução que tivemos. Estamos perto de encerrar este caso, Francis — disse Olívia, despedindo-se do parceiro e verificando toda a papelada que apresentaria no fim do dia ao delegado.

Às seis da noite foi convocada. Levou tudo que dispunha.

O corpulento delegado tomava café, apesar de estar reclamando de azia e dizer que não sabia o porquê. Pegou todo o material que Olívia lhe entregou e começou a leitura, correndo os olhos depressa sobre as letras impressas.

— Muito bem, inspetora Olívia. Você e Francis tomaram decisões eficientes nestes últimos dias, mas deixa-me ver melhor. — Folheou o inquérito com os olhos mais atentos atrás das grossas lentes dos óculos. — Aqui está, achei o laudo das impressões digitais.

Olívia aguardou, e quando ele desgrudou os olhos da folha e os mirou nela, ela disse:

— Pois é, é isso mesmo: o laudo da papiloscopia sobre as impressões digitais encontradas na arma do crime número um: a faca, usada para assassinar Nicolas, aponta Micael como autor dos golpes.

— Micael Duarte? O mesmo Micael que chantageou a editora-chefe — concluiu.

— O próprio. E tem mais, aceitaram nossa solicitação de quebra de sigilo do celular de Micael e, como pode verificar no próximo relatório do setor de Inteligência da Polícia Federal, obtivemos um resultado bem satisfatório.

O delegado passou os olhos nos cabeçalhos da folha e fixou-se onde haviam as informações mais importantes.

— Então quer dizer que a equipe da criptografia descobriu que este mesmo rapaz, Micael, mentiu no depoimento dele sobre as mensagens recebidas no WhatsApp? — perguntou lendo.

— Exato. Micael falou em seu depoimento que chegou a ver as mensagens de Nicolas, nas quais ele pedia socorro, só depois do assassinato, quando na verdade, depois da perícia realizada no aparelho de Nicolas, as suas mensagens foram visualizadas por Micael quase que instantaneamente. Ou seja, Micael sabia, possivelmente, o que estava acontecendo com o amigo, bem antes de a polícia chegar ao local. Resta averiguar o porquê de ter mentido sobre isso, mas temos uma suspeita.

— Este garoto está fodido — disse o delegado, sério, embora Olívia soubesse que tratava-se de uma piadinha dele.

— Eu e Francis verificamos um depoimento dado por um casal de senhores, vizinhos de Nicolas, e eles disseram que viram dois homens saindo do apartamento da vítima antes de recebermos a denúncia anônima e a polícia ser acionada. E eles reconhecerem sem dificuldades quando viram as fotos de Rodrigo e de Micael. Não hesitaram.

Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]Onde histórias criam vida. Descubra agora