45. Rodrigo

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DIA DOS CRIMES

21/02/17 – terça-feira, 20h53

Exatamente às 20h53 Rodrigo chegou à editora. Estacionou o carro no meio fio do lado oposto da editora, desligou o motor e se concentrou no desejo de matar Norberto.

Havia ludibriado Micael articulando palavras otimistas sobre o acordo de cumplicidade, sempre reforçando que era melhor manter a calma para fazerem uso da inteligência, pois apenas deste modo os dois se safariam de qualquer acusação que pudesse surgir a respeito do assassinato de Nicolas.

Obviamente existia a insegurança. Havia a possibilidade de suas palavras nem terem surtido efeito, e Micael estar agora mesmo numa delegacia contando tudo para a polícia. Porém, Rodrigo tinha que se agarrar em alguma coisa a fim de poder manter o mínimo de sanidade possível.

Mesmo assim, os falsos pensamentos otimistas eram massacrados pela realidade. Queria dar socos em sua própria cara por pensar em ter sido tolo de cair na emboscada que Norberto havia elaborado para ele.

É claro que ele sabia que eu, no fim das contas, não teria coragem de matar Nicolas! Bem feito, idiota do caralho! Quem mandou acreditar nas promessas daquele filhodaputa?

Socou o volante. E por sua sorte, dessa vez, não buzinou acidentalmente, senão, seria visto e acabaria "estragando" tudo (mais ainda).

Respirou fundo de olhos fechados para acalmar os nervos.

Já com o cérebro oxigenado, empunhou o celular na mão, e neste instante, surpreso (quase deixando escapar um "O quê?" gritado) ouviu o portão da editora soando o típico ruído de abertura e virou a cabeça, flagrando duas pessoas saindo às pressas. Numa fração de segundos, como se seus dedos tivessem vontade própria, desbloqueou o celular já na função de câmera e apontou à dupla que, por razões desconhecidas, batia o portão, numa tentativa frenética de fechar e dar no pé o mais rápido possível.

Começou a filmar.

Uma mulher e um homem. Ambos jovens.

Não eram ladrões, mas agiam como se tivessem roubado algo.

Rodrigo os filmou. Os dois correram até virar a próxima esquina e sumir da telinha do celular dele.

Sua cara era de extrema surpresa.

Conhecia muito bem aqueles dois fugitivos, e nada fez sentido, justamente por isso. Aparentemente não havia incêndio no prédio para tamanho desespero.

Por que diabos Laura e Cris estão correndo desse jeito?

Rodrigo havia esquecido, devido as tribulações daquele dia, que Laura e Cris estariam fazendo hora extra naquela noite. Isso explicava o motivo de estarem ali, mas não o de terem corrido feito bandidos-encurralados-num-beco do próprio local de trabalho. Será que Norberto se lembrava disso também quando me mandou encontrá-lo aqui?

Quando clicou para reproduzir o vídeo, o celular apagou por um segundo e apareceu a imagem de sua patroa.

— Caralho, o que é que está acontecendo hoje? Por que o mundo resolveu virar de cabeça-para-baixo?

Não havia tempo para reflexões alucinadas, sua cabeça doía, rodava. Queria apenas tirar tudo a limpo com Norberto e, de quebra, ter a oportunidade de matá-lo, porque, se fosse para ser acusado e preso por homicídio, que fosse pelo homicídio de Norberto, e não por um que não cometeu.

Acabou suspirando, tentando se livrar da carga pesada que pairava em seus ombros e costas, e resolveu atender, sem saber como sua voz sairia.

— Rodrigo — disse a voz nervosa de May do outro lado, antes mesmo de Rodrigo dizer "Alô". — Preciso, urgentemente, falar com você! Agora mesmo.

Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]Onde histórias criam vida. Descubra agora