60. Micael

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3 DIAS DEPOIS DOS CRIMES

24/02/17 – sexta-feira, 09h30

— Sabe o porquê de estar aqui, não sabe? Pois bem, sem perder nosso tempo, me diga logo: Qual a sua participação na morte de Nicolas? — O detetive foi direto ao ponto.

As olheiras demarcadas no rosto de Micael revelava as noites mal dormidas, e as bolsas abaixo dos olhos informavam que ele andou chorando também.

— Está me acusando de ter assassinado meu melhor amigo?

— Ora, ora. Eu nem falei nada disso; apenas perguntei qual a sua participação no homicídio do seu melhor amigo, pois, depois que conseguimos desbloquear o aparelho celular dele e termos acesso às mensagens, notamos que a própria vítima pediu socorro a você, estou errado?

— Não, mas...

— Nicolas mandou mensagens a você pedindo socorro, não foi isso?

— Sim, mas...

— Por causa das ameaças de Norberto, certo?

— Aham.

Micael sentiu-se acuado diante das perguntas do detetive. Tinha achado que ele próprio era a pessoa que mais falaria e que o investigador só o ouviria, por este motivo havia treinando o que falar, havia sentado de frente ao espelho por horas durante os dois dias anteriores, ensaiando seu depoimento, analisando suas próprias expressões, tentando saber se seria pego mentindo ou não durante suas falas. Como ele já sabia de toda a verdade, seria difícil enganar um agente da polícia, porém, se mesclasse algumas mentiras e omissões de alguns fatos, quem sabe não teria uma chance de convencê-lo? Contudo, o interrogatório estava saindo bem diferente do que imaginara, e estava prestes a perder o controle e acabar revelando tudo.

— A que horas foi socorrer seu amigo em apuros?

Era hora de colocar sua atuação em cena, e Micael respondeu:

— Eu poderia ter salvo ele. Eu poderia ter impedido essa desgraça toda... — As lágrimas surgiram e riscaram suas bochechas, e elas eram genuínas.

— Por que diz isso? — interpelou o detetive.

Micael estendeu os resmungos e quando achou o instante certo para falar, olhou nos olhos duros e firmes do detetive, na tentativa de soar convincente, mesmo que por dentro estivesse todo vacilante, e respondeu:

— Porque eu demorei muito para ver as mensagens e as ligações de Nicolas. Meu celular estava no modo silencioso. Não me dei conta, afinal, jamais imaginei que ele estava precisando de mim, da minha ajuda com tanto desespero. Quando percebi a urgência disso tudo, eu liguei para ele, tentando entender o que estava acontecendo...

— Sim, tem duas chamadas suas registradas no WhastApp, inclusive, os policiais estavam lá no local do crime quando você ligou.

— É. E como Nicolas não atendeu, e nem poderia, agora e sei o porquê, eu mandei mensagem para ele no WhatsApp, perguntando se estava tudo bem e também disse que estaria indo para lá... Mas quando cheguei no "bloco" dele, vi aquela confusão lá fora, e os policiais cercando o local, logo eu imaginei o pior. E realmente havia acontecido o pior. Estou sem dormir direito por causa disso, e...

— Compreendo, então vamos lá: Você notou as mensagens e as ligações tarde demais. É isso? Quando foi ajudar, tudo já tinha acontecido, e segundo o que me disse agora, você só chegou lá no local do crime, ou seja: no apartamento da vítima, quando a polícia e os peritos já estava operando. Confirma?

— Isso mesmo. — A sensação era a de que tinha uma batata entalada em sua garganta.

— Portanto, no dia 21 de fevereiro, você não esteve no apartamento de Nicolas antes de ele ser assassinado. É exatamente isso que você está nos relatando?

Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]Onde histórias criam vida. Descubra agora