52. Laura

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DIA DOS CRIMES

21/02/17 – terça-feira, 21h15

— A cabeça dele. Era para a bala ter feito um buraco...

— E termos miolos grudados na gente?

— Seria apenas uma questão de limpeza depois. Não sei... E Laura, seja forte como estava sendo até então, senão eu vou desmoronar também.

Ela tentou engolir o choro como fazia quando era criança. Demorou um minuto e depois, aos poucos, foi levantando-se do chão, trôpega.

— Agora tenho que marcar os dedos dele na arma.

— Ok, e eu... Bom, eu vou dar mais uma olhada por aí para ver se tem alguém nos espiando. — Laura deu leves tapinhas na roupa e se recompôs. Estava indo exatamente em direção ao pequeno depósito da gráfica, o quartinho de tralhas.

Nada ali, ao menos o que seus olhos poderiam enxergar.

Andou mais devagar.

Estava escuro, ia procurar o interruptor para iluminar o local. Lembrava que o interruptor ficava mais adiante.

Parou bem ao lado do armário velho de alvenaria.

Olhou para ele. Pensou em abrir.

Não entendeu direito o alerta que se formou dentro de si naquele instante. Talvez tivesse ouvido algo. Será que foi coisa da sua cabeça?, chegou a pensar.

Bom, não custava nada dar atenção à sua intuição. Portanto, decidiu abrir a porta de madeira.

Levou a mão até a maçaneta surrada, e quando estava prestes a puxá-la para abrir, Cris gritou do outro lado:

— EI!

Ela deu um pulo para trás. Levou a mão que estava na maçaneta ao peito, que subia e descia com mais rapidez.

— Quer me matar de susto, cara? — Ainda segurando o coração, expirou o ar que acumulou nos pulmões e se afastou. Desistiu do trinco da porta. Respirou profundamente mais uma vez, e perguntou: — O que foi?

Laura havia dados as costas à porta.

— Escuta! — disse Cris.

Ela prestou atenção.

— É um som... É algum celular tocando?

— Sim — respondeu Cris. — E está vindo daqui.

Laura viu para onde ele estava apontando.

— Alguém está ligando para ele, Laura.

Ela andou depressa em direção à cena improvisada de suicídio.

Utilizando-se do mesmo apetrecho, ou seja, do lencinho, Cris pegou o celular do bolso de Norberto e viu que quem ligava era...

— Nicolas?

Ele mostrou o celular para Laura.

— Caramba! Sim, é o Nico na foto.

— Por quê ele estaria ligando para Norberto a essa hora?

O celular parou de chamar. Entreolharam-se, intrigados. O que poderia estar acontecendo? Uma luz se fez sobre a cabeça de Laura nesse instante.

— Cris, escuta. Como a gente é lerdo!

— O quê?

— Acabei de ter uma ideia que só me ocorreu agora.

— Diz logo, poxa!

— 'Tá. E se a gente adicionar o número desconhecido no nosso celular, e tentar adicionar no WhatsApp?

— Boa! Assim, se a pessoa tiver uma foto no perfil do WhatsApp e estiver pública poderemos ver quem é.

Laura mexeu no celular, afoita. Fez todo o processo de adicionar o número e por fim, fez um "O" bem aberto com a boca.

— Apareceu? — Cris mordia o lábio mesmo ele estando machucado. — Quem apareceu?

— Cris do céu... — Laura preferiu que ele visse com os próprios olhos e apontou para ele ver. Cris olhou, e sua boca fez a mesma letra da dela quando Laura viu. Era exatamente a mesma foto que estava no celular de Norberto agora pouco. — O número desconhecido é dele, de Nicolas!

— Por que Nicolas tem esse outro número? Por que Norberto tem salvo?

— As questões são mais profundas que essas, Cris. Por que é que Nicolas nos estimulou a cometer isso? — Ela evitou de usar a palavra "Crime". — Como é que ele SABE que estamos aqui?!

— Talvez ele soubesse que estávamos fazendo hora extra hoje? — sugeriu Cris.

— Bom, mas ele não saberia que estávamos fazendo isso, Cris!

— Será que era ele no carro que acreditamos ter visto?

— Ele nem tem carro até onde eu saiba.

— Você tem razão.

— Uber, talvez? — Ela franziu a testa.

— Não sei. Não faz sentido ele ter vindo aqui depois do expediente... Não sei o que pensar. Não sei como Nicolas se encaixa nisso tudo aqui. Nem sei como nos metemos nisso aqui!

— É verdade! Mas, agora que sabemos que é Nicolas, o que poderemos fazer? — quis saber Cris.

— Ué, vamos ligar no número que nós temos dele. — Não chamava. Então, Laura sugeriu que fossem até a casa dele. — Ele deve ter os motivos. Ele deve saber de algo que não sabemos, e deve ser alguma coisa grave! Aliás, vendo por outro lado, ele até ajudou a gente, de certa forma, a nos livrarmos da culpa, agora resta esclarecer todas as outras coisas!

Quanto mais teorizavam, mais para longe da verdade iam. E feito personagens nos capítulos finais de um livro policial em busca de respostas, eles abandonaram a cena do crime e foram correndo fazer perguntas a Nicolas. Pareciam protagonizar uma fuga num filme B.

Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]Onde histórias criam vida. Descubra agora