28. Rodrigo

389 85 44
                                    

6 MESES ANTES DOS CRIMES

— Sente-se — disse Norberto, soturno.

Rodrigo sentou no sofá, duro (não o sofá, Rodrigo) e agradeceu. Mirou as bolsas inchadas que haviam se formado embaixo dos olhos de seu patrão. Notou o abatimento.

Não era para eu estar aqui!

— Desculpa incomodar você, Rodrigo. Sei que não tem nada a ver com isso tudo. — Rodrigo engoliu em seco. Poderia se sentir aliviado? — Mas preciso muito da sua ajuda... Como eu disse, quero saber qualquer coisa que possa ajudar a encontrar minha mulher.

Era de dar pena. Norberto poderia roubar o papel de Ben Affleck em Garota exemplar naquele momento.

— Eu entendo você, completamente, Norberto. Qualquer um estaria tão abalado como você está agora. A melhor coisa a se fazer...

Norberto o interrompeu com risos. A incredulidade tomou conta do rosto de Rodrigo.

Depois Norberto gargalhou, gostosamente, fazendo de Rodrigo um perfeito idiota.

— Você me entende? — perguntou Norberto, apontando uma arma para ele. — Você me entende completamente, seu filho-da-puta desgraçado?

Naquele instante Rodrigo descobriu que cometeu um erro ao ter sentado de costas enquanto Norberto supostamente ia buscar água. Ele sabe. Estou fodido!

— O que é isso? Norberto, o que está fazendo? — Rodrigo pôs-se de pé, num salto, espalmando as mãos no ar, implorando calma.

— Você sabe muito bem o que está acontecendo, seu traidor de merda! E não se mova! — ameaçou Norberto com a charmosa Taurus em riste. — Você me acha otário? Liguei para você e você falou que não sabia que May faria hora extra. No carro, me você disse que ela comentou em ficar uns "minutinhos" a mais... E calado, ainda estou falando! — Norberto cuspia enquanto gritava. Rodrigo estava totalmente encurralado. — Você sabe que me ligaram?

— Não!

— Claro que sabe, babaca!

— Abaixe essa arma, por fav...

— Cale a sua boca! Admita! Você está envolvido nisso!

— Não sei sobre o que você está...

— Porra! Você quer levar um tiro na cabeça agora? Só abra a boca para dizer a verdade, seu bosta!

O medo estampado nos olhos de Rodrigo desnudava sua fraqueza.

— Vamos! De homem para homem, porra! Diga o que sabe! Agora, sem tentar me enganar!

— Eu não sei porque está me ameaçando... Eu não estou envolvido nisso!

— May jamais poria tudo a perder! O sequestrador foi claro quando disse o valor do acordo. Conheço minha esposa, ela mentiria, mesmo sob tortura para proteger a editora, seu animal? Como é que você sabe do nosso patrimônio todo? Maldito!

Rodrigo tremeu. Idiotas. Burros do caralho! Eu sabia! Eu sabia!

— Tre-zen-tos e se-ten-ta mil re-ais — disse Norberto, sílaba por sílaba. — Trezentos e setenta, seu porra! E aquelas ligações que não quis atender? Que showzinho barato, seu estúpido! E eu vi muito bem aquela mensagem estranha. — Rodrigo sabia disso e optou pelo silêncio, precisava ganhar tempo para pensar. — É tão estúpido que colocou o celular diante dos meus olhos, sabendo que seus capangas poderiam entrar em contato com você a qualquer hora. Como pôde ser tão otário? — Era uma pergunta retórica, claro.

Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]Onde histórias criam vida. Descubra agora