DIA DOS CRIMES
21/02/17 – terça-feira, 21h00
Rodrigo subiu as escadas rapidamente e, quando chegou ao amplo escritório — vazio, aparentemente —, sussurrou:
— Cadê você, filhodaputa?
Seus sentidos ficaram aguçados novamente, como se dali a pouco começasse a desenvolver super-poderes. Entretanto, sentia-se cansado. Estava farto de surpresas desagradáveis.
Passos cautelosos. Aproximou-se da sala de May. Alguma coisa, lá dentro, gritou por sua atenção. Parado à porta, seus olhos voaram e pousaram no monitor do computador quebrado, estatelado no chão. Rugas de estranheza. Não fora obra de um vendaval. Alguém cheio de ira fizera aquilo... E não fazia sentido, pois, Laura ou Cris... seriam capazes de vandalizar a sala da patroa?
Por impulso, torceu para que May tivesse feito um backup na nuvem.
Embasbacado, notou-se sozinho. Caramba, era para Norberto estar aqui. Instintivamente, virou-se de costas, apreensivo. Entrar na sala lhe causaria a sensação de enclausuramento; melhor se manter num lugar mais aberto e espaçoso, pois o alarme de perigo cerebral havia sido ativado. Precisava era ser esperto e inteligente, e sua cabeça só estava indo contra. Seu cérebro estava operando em baixa rotação.
— Ei, tem alguém aqui?
Nem o eco respondeu.
— Norberto? — arriscou.
E Norberto algum respondeu.
Alívio? Ou desespero? Afinal, duas pessoas haviam saído dali, agora pouco, correndo.
Ao menos não dei de cara com um corpo estirado aqui na minha frente.
Receoso, tentou de novo:
— Alguém? — Precisava ter certeza.
E ninguém respondeu de novo.
Confuso, dirigiu-se à grande janela do escritório e olhou lá para fora. Mais perto do vidro viu um cachorro abandonado atravessando a rua. Apenas isso; nenhum carro. Esquerda; direita, nada. Nenhum carro no estacionamento interno da editora também. Conclusão?
Safado! Por que você me mandou vir aqui, então, já que não veio? É mais uma armadilha?, pensou, como se Norberto pudesse responder de algum lugar telepaticamente.
Com a cabeça pulsando junto aos batimentos do coração, forçou o pescoço para um lado e para o outro e o ouviu estalar. Precisava, urgentemente, de alguns comprimidos prometedores de relaxamento. E um calmante poderoso para afastar os pesadelos... caso saísse dali vivo e tivesse o luxo de sonhar.
Apertou os olhos e piscou-os constantemente a fim de recuperar o foco. Voltou-se ao amplo escritório e, ao chegar ao centro dele, cercado por baias, mais uma vez, esbarrou, visualmente, em algo. A gaveta acoplada à mesa de May também havia sido vítima de violência. Alguém a chafurdou, não restava dúvida!
O que queriam? Será que acharam?
Quem "acharam"?
Pensou na corrida desesperada de Laura e Cris.
Não havia nada de valor nas gavetas de May, que ele soubesse. Com intuito de ver melhor, rendeu-se e, sempre olhando para trás, adentrou a sala. A sensação de estar dentro de uma arapuca causou um leve refluxo. O gosto azedo subiu à boca. Devolveu ao estômago com um grande gole de saliva.
Não a gaveta, mas o que tinha embaixo dela, foi o que agarrou sua atenção. Provavelmente, aquilo, era o conteúdo da gaveta, que por algum motivo, havia sido descartado.

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Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]
Misterio / Suspenso(LIVRO COMPLETO) | VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS2020 | Categoria: Mistério & Suspense Do que você seria capaz para publicar seu livro? O jovem escritor, Micael - consumido pela ambição de ter seu livro aceito pela editora-chefe da Hora de Ler -, aparece...