1 DIA DEPOIS DOS CRIMES
22/02/17 – quarta-feira, 12h48
— Bom, faz umas duas semanas...
Ele, ao perceber que May tinha pulado a primeira pergunta, a interrompeu e pôs-se a dizer:
— Você está dizendo que já sabia que seu marido a traía, certo? Este foi o motivo principal para dar início às brigas constantes. — Ele pigarreou, depois foi direto ao ponto: — Queremos saber como foi que desconfiou a traição. E o porquê de ter explodido apenas ontem.
May abriu a boca, mas não saiu nenhuma palavra dela.
— Estava à espera de alguma confirmação? Alguém te contou alguma coisa sobre o seu marido ou vai me dizer que você o surpreendeu com o amante dele ontem? — Antes que Ela interviesse, Ele prosseguiu com a mesma dureza: "Ela é minha agora!" — E outra: suas expressões estão me parecendo um pouco estranhas. Não estamos aqui para incriminá-la da morte de seu marido, e está parecendo que você está se defendendo de algo que não fez. Não precisa agir assim. É verdade que, nos casos criminais envolvendo relacionamentos extraconjugais, o suspeito número um é sempre o cônjuge, mas até então, a história resumida é essa: Norberto ameaçou Nicolas de morte. O matou, e depois foi até a editora e se matou. Este é o primeiro panorama que temos. Para que algumas coisas se encaixem, eu... quer dizer: nós, precisamos que você conte como desconfiou e como confirmou as traições. — Sem dar tempo, Ele tentou: — Você viu? Alguém te contou?
Ela respirou fundo.
— Fui chantageada — revelou. — Micael Duarte é o nome dele.
— Ok — disse o detetive, como se já esperasse por aquele nome. — Conte-me como Micael a chantageou. Fale tudo o que lembrar.
May fez que sim com a cabeça e iniciou o seu monólogo, destilando seu ódio através de lágrimas ao contar sobre como fora chantageada.
— Então foi ele, Micael, quem tirou a foto?
Ela confirmou com um movimento de cabeça.
— Certo. — O detetive ia anotando tudo.
May estava passando as mãos pelas bochechas molhadas e fungando quando terminou de contar seu relato
— Desculpe por não ter um lenço... — disse Ela.
— Não precisa — May tinha a voz embargada, parecia gripada.
— Bom, até agora temos o seu depoimento de como ficou desconfiada. Sobre a chantagem, pode deixar conosco que nós convocaremos Micael para depor. Abra uma queixa. Se quiser, faremos isso agora.
— Claro.
May respirou profundamente.
— E agora, conte-me, como confirmou a traição? Explique como teve a certeza de que seu marido cometeu alguns atos de traição justamente no Almoxarifado.
Os olhos de May vacilaram para a direita. Lembrou-se das cenas que assistira repetidas vezes no seu computador. Tanto as cenas de Norberto encomendando a morte de Nicolas para Rodrigo, em sua sala, em sua casa!, quanto ao assassinato de seu marido.
— Mariane, como confirmou? — A detetive a encarava, em busca da verdade.
May desviou os olhos dos d'Ele, e murmurou:
— Como confirmei? — disse May, tentando ganhar tempo.
— Isso — disse Ele, quase revirando os olhos, provavelmente de saco cheio por identificar que May não estava contando tudo.
— Intuição feminina, detetive.
— Isso não comprova nada, e você sabe disso. Mariane, preciso que... Olhe para mim, por favor... Eu preciso que me conte tudo o que sabe — A detetive a pressionou.
— Intuição feminina — insistiu.
— Tem certeza? — perguntou Ela, como se estivesse dando uma segunda chance para May se redimir e desembuchar TODA a verdade.
— Aham.
Desta vez foi Ele quem interviu, mais sério:
— Segundo alguns relatórios que lemos, você chegou a duvidar que seu marido tenha se matado. Por quê? Tem alguma prova disso? Sabe alguma coisa que comprove que não foi suicídio? Baseado em quê você acha que mataram seu marido?
May hesitou. Desviou o olhar para o chão de novo. No mesmo instante soube que fizera uma besteira. Os detetives desconfiaram do movimento, com certeza. Relutante, ela olhou para os olhos d'Ele e falou:
— Bom, você vai achar que estou fazendo algum tipo de brincadeira, mas eu disse aquelas palavras na hora por causa do estado de choque ao qual eu entrei, então, na verdade, eu não tenho como provar e... tudo não passa de...
— Já sei, intuição! — cortou Ele, levantando-se. Pôs as mãos na cintura e deu a volta no sofá. Mantinha a cabeça projetada para cima, num gesto de total incredulidade.
A detetive deve ter sentido toda a frustração emanada do parceiro e, então, resolveu acalmar os ânimos por enquanto.
— Tudo bem. Se precisarmos de mais algumas informações sobre este tópico específico da investigação, você será convocada na delegacia, certo? Pois, ainda temos algumas evidências e relatórios para analisar com a finalidade de traçar uma linha do tempo com mais objetividade. — Era um aviso de que ela seria convocada novamente. E May havia entendido o recado. — E antes de mais nada, vamos registrar agora a queixa da chantagem. Vamos cuidar em acelerar o processo com o promotor para que possamos convocar Micael o mais rápido possível. Precisamos do depoimento dele também.
Formalizada a queixa contra Micael, a detetive respirou fundo e resolveu voltar com seu toque mais humano:
— E como se sente agora? Precisa de ajuda médica? Algum auxílio... Ou até mesmo que chamemos alguém...?
May fez que sim com a cabeça.
— Sua mãe, não é? Se quiser...
— Agradeço a sua preocupação, detetive, mas pode deixar que eu mesma vou avisá-la e pedir para que venha me dar apoio...
— Certo — Ele finalizou a conversa.
E Ela disse antes de deixar o apartamento de May:
— Tenta de alimentar direitinho. E repouse o quanto precisar. A gente entra em contato em breve, Ok?
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Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]
Mystery / Thriller(LIVRO COMPLETO) | VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS2020 | Categoria: Mistério & Suspense Do que você seria capaz para publicar seu livro? O jovem escritor, Micael - consumido pela ambição de ter seu livro aceito pela editora-chefe da Hora de Ler -, aparece...