3 MESES ANTES DOS CRIMES
O enorme Samsung Galaxy Note de Nicolas vibrou na mesa e exibiu a foto do seu ex-namorado: Micael. De novo aquele mal-estar. A amizade continuava, pois haviam percebido ao longo do tempo que era para ter sido assim desde o início: apenas amigos. Hoje eram confidentes e, segundo o próprio Micael, Nicolas estava lhe devendo um "favorzão". Porém, como abordar May para ajudá-lo?
O "grande favor" consistia em implorar à May por uma chance ao livro do amigo. Detalhe: o qual já havia sido recusado uma vez.
Nicolas estava com tempo de sobra no trabalho e, mesmo assim, dava desculpas, dizendo que estava uma correria na editora. Pegou o celular e o encarou até que parasse de chamar. Em seguida, abriu a gaveta e encaixotou o aparelho. Nicolas esfregou o rosto e bufou.
- Droga, como me livro desse peso? - Lhe faltava coragem para abordar a editora-chefe com um pedido desse.
- Algum problema? - Aquela voz. A voz.
O rapaz levantou a cabeça de repente e viu Norberto segurando uma folha.
- Não... senhor. Só preciso que você peça à sua esposa para publicar meu amigo, pois ele está acabando com minha paz!
- Parece preocupado. Vai me dizer o que é?
- Imagina, deixa para lá - respondeu Nicolas. - O ruído vindo da gaveta livrou o rapaz do contato visual. Os clipes metálicos zumbiram. - Ah, desculpe. Preciso... Com licença. - Nicolas pegou o celular, decidido em atender para fugir do homem à sua frente.
- Fique à vontade - disse Norberto, ainda fitando-o, sem sair do lugar.
Nicolas deparou-se com a foto de Micael na tela mais uma vez. Vislumbrou o aparelho estilhaçando na parede mais próxima. Agora tinha que atender. Quando foi arrastar o dedo sobre a tela para aceitar a chamada o Galaxy Note deslizou de suas mãos e foi direto para o chão. O som de vidro rachando chegou aos seus ouvidos.
- Ah, merda! - resmungou Nicolas ao resgatar o aparelho. Fez careta de decepção ao constatar a enorme rachadura na tela, de uma extremidade à outra, como se fosse um traço feito a mão e de propósito.
- Putz. Ficou feio - falou Norberto.
- Desculpe por...
- Pelo quê? Pelo "merda"? Fica frio, palavrões fazem parte do meu vocabulário, como já sabem. Você pareceu muito nervoso ao atender, o que é que está deixando você assim?
- Bom, é que... Por onde eu começo?
- Xiii. Já sei. Problemas amorosos, acertei? - arriscou Norberto.
- É... Quer dizer... Não! Nada a ver, são outros problemas - disse Nicolas, por fim. - É outra coisa que anda me deixando nervoso. Obrigado, mas é bobagem se preocupar... E bom, agora, para me deixar mais nervoso ainda, vou ter mais um gasto desnecessário. - Apontou para o dispositivo com o objetivo de mudar o rumo da conversa.
- Bom, você vai precisar desembolsar uma graninha boa no reparo disso aí. Um aumento seria muito bem-vindo agora. - Norberto sorriu. - Sei o quanto é caro para consertar essa belezinha.
- Pois é... Um aumento agora seria bom - respondeu ele, despretensioso.
- Falarei com May sobre isso. - Norberto parou de sorrir e continuou sério.
- Desculpa... falar com May sobre o quê?
- Sobre o aumento. - Norberto disse em tom de obviedade, faltando dizer apenas: "Seu bobinho". Nicolas ficou mudo. - Vai nem dizer "Obrigado"? - Norberto entregou uma folha a Nicolas. Deu o último sorriso e foi embora sem resposta, deixando Nicolas perplexo.
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Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]
Mystery / Thriller(LIVRO COMPLETO) | VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS2020 | Categoria: Mistério & Suspense Do que você seria capaz para publicar seu livro? O jovem escritor, Micael - consumido pela ambição de ter seu livro aceito pela editora-chefe da Hora de Ler -, aparece...