6 MESES ANTES DOS CRIMES
Na segunda tentativa, o desespero ganhou um pouquinho mais de força. O celular só chamava e nada dela atender. Paralisou de preocupação, mas não pôde permanecer assim por muito tempo.
Pegou a chave do carro, e antes de ir correndo até a editora, ele deixou uma mensagem de voz para ela:
— Você está me assustando, querida. Sei que o original deve estar muito interessante aí, mas, não faça isso comigo. O jantar está pronto. Eu estou indo aí. De qualquer forma, espere por mim, mesmo que já esteja saindo... — O típico "Eu te amo" dos finais das ligações engasgou em sua garganta. Preferiu não dizer ao telefone, diria pessoalmente.
Ele foi até a Editora esperando encontrar May descabelada e completamente imersa em alguma leitura atrás duma pilha enorme de folhas de papel. Com certeza ela deve ter deixado o celular dentro da bolsa lá na copa.
Estacionou o carro no meio fio e, involuntariamente, seu coração pulsou mais rápido. A Tucson estava lá dentro, mas nenhuma luz estava acesa no andar de cima, muito menos no de baixo.
Achou tudo aquilo muito estranho.
E era para desconfiar mesmo.
Não soube porque a frase "Chame a polícia" pipocou na sua mente, isso apenas ajudou seu coração a acelerar ainda mais. Calma, May deve estar tão concentrada no livro que...
Cobrou-se de repreendê-la sobre o brilho forte da tela do notebook nos olhos, ainda mais naquele breu. Contudo, obviamente, isso não aconteceu. May não estava lá. A editora Hora de Ler estava: escura; silenciosa; e vazia.
Norberto correu até o portão que dava acesso ao estacionamento. Digitou a senha no painel analógico do portão social e ouviu as travas recebendo o choque. Destravaram na hora.
Abriu o portão, apressadamente e correu para o carro dela. Inspecionou com os olhos e não viu nada. Deu um murro na lataria da porta.
Foi até a entrada de vidro escura e dessa vez pôde ver um homem altamente desesperado no reflexo. O molho de chaves nas suas mãos parecia um emaranhado de escorpiões vivos. Elas tilintaram quando caíram no chão.
— Droga! — gritou Norberto, sentindo a coordenação motora comprometida. — May! Você está aí?!
O silêncio respondeu que não.
De certa forma Norberto achou meio "vergonhoso" gritar o nome dela mais um dezena de vezes, como um louco desesperado. Se ela estivesse lá dentro, sã e salva, e o flagrasse naquele estado desesperador, ela, provavelmente, riria da cara dele e depois o acariciaria como se ele fosse um cachorrinho fofinho, dizendo: "Oh, querido, meu amor, se acalme, estou bem, seu bobo."
Recobrando o foco, Norberto constatou o pior quando vasculhou todo o local: May havia sumido.
Ligou para quase todos os funcionários da editora. Todos disseram que não sabiam que May estava fazendo hora extra naquele dia, muito menos para onde possivelmente ela teria ido.
Norberto decidiu, a contragosto, chamar a polícia.
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Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]
Mystery / Thriller(LIVRO COMPLETO) | VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS2020 | Categoria: Mistério & Suspense Do que você seria capaz para publicar seu livro? O jovem escritor, Micael - consumido pela ambição de ter seu livro aceito pela editora-chefe da Hora de Ler -, aparece...