Capítulo 1 - Lizzie

3.5K 268 1.6K
                                    

Desperto assustada com o solavanco do ônibus. Deixando escapar um pequeno bochecho que tapo com a mão direita. Enquanto seguro firme no apoio com a minha mão esquerda; encostando minha cabeça no metal amarelo que divide as cadeiras. Passei a noite estudando, ao menos espero conseguir me manter acordada para fazer a prova. A movimentação de pessoas entrando e saindo, faz com que eu me mova de um lado para o outro com o peso da mochila em minhas costas, jogando-me como um ioiô no meio do ônibus. Não escolhi o lugar mais confortável para ficar em pé no ônibus, mas isso me impede de ceder ao sono e fechar os olhos para cochilar. Olho de relance pela janela e noto que minha parada está próxima. Uma das vantagens de ficar perto da porta, sairei rápido, sem precisar me espremer entre as pessoas para passar.

Salto para fora do ônibus. Ainda bocejando, eu entro na escola.

— Você não dormiu, não foi? — uma mão surge enroscando-se em meu ombro.

— Camélia! — eu reconheço a voz e sorrio para ela. — Dormi, um pouco.

— Um pouco? — ela retruca, reconhecendo minha mentira.

Camélia coloca sua franja atrás da orelha, cruzando os braços, e lançando um olhar de reprovação. Olhar esse, que eu já estou acostumada.

— Liz! — ela inicia o sermão, o espaço em sua sobrancelha abre forma com a expressão franzida de sua testa. — Não faz bem ficar sem uma noite de sono para estudar. Você acaba ficando cansada e não consegue bom resultado na prova.

— Ah. — outra pessoa surge, pulando no meio da gente, seus longos fios pretos cobrindo seu rosto. — Esse sermão de novo?

— Ela não me escuta. Fale com ela, Melinda, ela te escuta mais.

Melinda solta uma gargalhada, chamando a atenção dos alunos que passam pelo corredor.

Camélia flexiona as pálpebras, abrindo os olhos castanhos com mais firmeza.

— Não sei como viramos amigas! — exclama ela, sem manter a firmeza em sua expressão, desmanchando-se em um sorriso frouxo.

— Está tudo bem, Melinda? — pergunto. Ela está com a aparência de sempre, mas com todos os anos de amizade que cultivamos, sei reconhecer sua risada forçada.

Ela para de sorrir, jogando o cabelo para trás; passando o dedo anelar da mão direita na sobrancelha, como se estivesse penteando-a. Eu entendo de primeira ao ver o anel de prata. Troco olhares com Camélia, enquanto Melinda coça o olho com o mesmo dedo.

— Está tudo bem? Quer um colírio? — pergunto, provocando-a.

— Não é nada disso. — seus olhos me fitam, sinto as ondas de choque, revoltados por não ter seguido sua brincadeira. — O Anthony me pediu em namoro. Estão vendo? — ela olha para o dedo, girando o anel e sorrindo.

Esse sorriso...

— Não foi cedo demais? — pergunto. Camélia balança a cabeça, concordando com o meu pensamento. — Afinal, quando vamos conhecer esse menino formalmente?

— Cedo? — Melinda cruza os braços, torcendo o nariz. — Estou com ele faz um mês.

— Eu sei, mas... — ela foge da minha última pergunta.

Eu não termino a frase, quero ver minha amiga feliz, mas algo no Anthony me incomoda, e o sorriso dela não parece verdadeiro. Toda vez que tento falar com ela sobre o Anthony, ela só tem elogios, mas não responde às minhas perguntas sobre ele. Sempre que encontrávamos com ele, era apressado, nunca concluí mais de cinco frases com ele.

Talvez seja coisa da minha cabeça, não devo ficar no pé dela. Seus olhos brilham olhando para a aliança.

— Por que não o chama para a lanchonete do parque quando sairmos? — insisto em conhecê-lo melhor.

Renascer dos Lobos Onde histórias criam vida. Descubra agora