Capítulo Cinco

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ANY POV

É noite e estou deitada em minha cama, com minha filha agarrada à mim, se fôssemos uma família normal, provavelmente meu marido estaria junto de nós e talvez estivéssemos rindo de alguma palhaçada que ele teria feito, só para poder escutar as risadas das mulheres que ele mais ama no mundo.

Mas minha família está longe de ser comum, eu e minha garotinha estamos sozinhas, Jack não chegou até agora e já são 22:56, eu deveria estar preocupada, porém não é a primeira vez que isso acontece e quando ele demora assim, eu sei que vai chegar bêbado e com perfume de mulher, mas o que mais me apovara não é ter total ciência de que estou sendo traída, eu tenho medo desses dias porque ele sempre desconta suas frustrações em mim no final.
Eu fico esperando escutar os passos pesados na escada, meu corpo tremendo com a apreensão, será que se eu fingir que estou dormindo com Alasca ele me deixa em paz? Será que se eu disser "não" ele vai aceitar minha decisão? Eu não gosto quando ele me toca bêbado, ele sempre é bruto, me machuca e me faz lembrar da noite em que perdi a virgindade, aquela noite...

Será que sou uma pessoa muito ruim por desejar que ele não venha para casa hoje? Eu sou um monstro por desejar que meu marido morra e me deixe em paz? Sim, eu sou uma pessoa horrível, eu sei disso, mas esses pensamentos sempre rondam minha cabeça nas noites que ele chega tarde em casa. Porque eu sei o que vai acontecer, e se eu me renegar a fazer seus gostos, eu apanho e tenho que fazer o que ele quer do mesmo jeito, só que machucada.

Ouço passos vindo do andar de baixo, meu sangue gela nas minhas veias e todos os meus sentidos se aguçam. Posso escutar ele colocar as chaves em cima da mesa da cozinha, desligar o interruptor e sua cadência de passos lentos e pesados subindo pelas escadas. Fecho os olhos e abraço o corpo da minha filha com força.

Por favor, hoje não.

Por favor, hoje não.

Por favor, hoje não.

A maçaneta gira, a porta se abre e ele entra no quarto. Tira seu paletó, ouço-o pendurar a peça de roupa em algum lugar, não sei ao certo, meu nervosismo não me permite que eu me atente aos detalhes.

Por favor, hoje não.

Por favor, hoje não.

Por favor...

-Any- ele murmura e rezo para que não insista -Any, eu sei que você está acordada.

Droga.

Droga.

Droga.

-Vou deixar Alasca no quarto dela, quero você para mim hoje- sinto o cheiro de álcool misturado com perfume de mulher emanar dele, enquanto ele fala baixinho no meu ouvido.

Posso sentir Alasca ser removida dos meus braços, mas não vejo, não enxergo porque não quero abrir os olhos, estou com medo, eu lembro de como ele pode me machucar quando está bêbado.

Não sei se se passaram segundos ou minutos, mas pareceram horas intermináveis. Sabe aquele momento em que você fica esperando que o monstro do seu quarto tire sua coberta e te ataque? Mas no final, isso não chega a acontecer. No meu caso, o monstro do meu quarto é o homem que jurou me amar e me proteger e aqui no meu conto de terror, ele sempre puxa as cobertas.

Conteúdo bastante delicado daqui para frente, se você for sensível, por favor, não leia.

-Vamos, Any, abra os olhos, vai ser bom para você, querida, você sempre gosta quando eu te toco.- sinto a cama se mover quando ele sobe em cima da mesma, para em seguida tirar o lençol que eu usava como proteção.

Behind the mask Onde histórias criam vida. Descubra agora