Quão raro e belo é apenas o fato de existirmos

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Em menos de dois dias eu convenci a minha mãe a iniciar o processo de tratamento contra o câncer e em uma semana, juntamos tudo o que tínhamos para dar entrada com o pagamento dos medicamentos e plano de saúde, que já estava falho. Teríamos que arcar com tudo. Zendaya conversou por horas em alguns dias da semana com a minha mãe e comigo, se sentindo completamente aborrecida além de culpada por não ter conseguido acordar com as ligações da Ashley. A Ashley, por outro lado, nos visita ainda mais, sempre se oferecendo para ajudar em casa, seja com a limpeza e fazer comida, ou só pela companhia, o que faz a minha mãe passar a maior parte do tempo rindo, já que a mesma perdeu o emprego assim que levou o seu diagnóstico. Estávamos perdidas e sozinhas.

Zazie me ligou, é claro que eu não conseguiria ligar, prometeu nos visitar e obviamente perguntou sobre tudo, eu desabafei sobre as mesmas coisas que eu já falava com a Ashley e Zendaya, que a situação estava difícil e o dinheiro estava prestes a acabar, meu maior medo e pânico é pensar que poderia cortar o tratamento da minha mãe na metade do processo. Zazie me ofereceu ajuda, especialmente dinheiro e eu nunca me senti tão ofendida além de envergonhada, era uma situação completamente embaraçosa se chegasse a esse ponto. Eu lutaria para que isso não acontecesse de maneira nenhuma, eu daria conta e me esforçaria no Spitz, nem que eu tenha que trabalhar em tempo integral. Mesmo não sabendo se eu daria conta de ficar em casa e ajudar a minha mãe, tomar conta dela e ficar segura que ela estava bem. A primeira sessão de quimioterapia derrubou ela por completo, ela nunca esteve tão fraca e sempre é preciso um acompanhante, eu avisei ao Senhor Larson que nos dias de tratamento eu não poderia entrar de manhã no trabalho, mas que recompensaria durante toda a tarde e toda noite se fosse preciso.

- Eu com toda certeza ligaria para a Anne e marcaria uma hora no salão, sinto falta de fazer as minhas tranças. - Minha mãe disse baixinho assim que eu voltei para a nossa sala com o seu café da tarde em uma bandeja, hoje eu cobriria hora extra no turno da noite. - Mas hoje eu estou ainda mais fraca, essa segunda sessão conseguiu ser ainda mais forte que a primeira.

- Eu posso trançar o seu cabelo. - Respondi e a mesma balançou a cabeça um pouco indisposta. - Ou a Ashley, ela é ótima nisso. Você viu como estava as minhas últimas tranças? - Ela balançou a cabeça assentindo devagar e eu sorri fraco. - Mas ninguém vai ser tão cuidadosa com eu, aliás... Eu acho que eu nunca trancei o seu cabelo, você sempre me ensinou, mas nunca no seu.

- Vou aceitar a proposta. - Minha mãe sorriu, eu me animei no mesmo segundo ao passar a xícara de café para ela. Me sentei no sofá e ela se endireitou com cuidado, ficando a minha frente e eu cuidadosamente tirei o lenço que ela usava, desmanchando em seguida o seu coque alto.

Assim que passei as mãos pelo seu cabelo ao desembaraçar com total cuidado, repartindo ao meio os seus cachos e por sorte, tendo um dos pentes que eu usava na mesinha de centro, me ajudou a ter mais cuidado e principalmente para que não doa em nada. Eu segurei a respiração assim que alguns fios do seu cabelo caíram na minha mão, estamos somente na segunda semana de tratamento e eu tentei não me assustar com o fato que o seu cabelo estava fraco, caiu um pouco mais assim que eu passei o pente novamente entre as mexas.

- Minha mãe me ensinou a trançar. A sua avó passava horas e horas descobrindo, ou inventando todos os penteados possíveis em mim. - Ela disse baixinho assim que eu voltei para raiz e precisei me erguer para começar da forma mais prática a divisão. - Eu fiz o mesmo com você, lembra? - Minha mãe perguntou em um sorriso e eu balancei a cabeça assentindo ao sorrir também. - Espero pelo dia que você irá trançar o cabelo da sua filha, que as suas mãos sejam como as minhas, ou melhores. - O seu tom de voz ficou mais baixo rapidamente ao se emocionar e eu congelei. - Eu também espero que eu esteja aqui, quando isso acontecer.

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