XLII.

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Quem você esperava?
O Papai Noel?
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Existia um nível de bizarrice que nem eu queria ultrapassar. Ver vovó jogando carteado com Quíron ultrapassava todas as barreiras, acredite.

É, acho que preciso explicar isso tudo do início. Bem, quando foi o início mesmo? Ah, sim...

O momento que estava dentro do Bunker 9, o Garoto em Chamas era o único que ainda não saído dali para almoçar e eu, como já tinha pego comida ── vantagens de ter um amigo filho de Hermes: ele sabe roubar coisas, inclusive comida ── resolvi continuar ali, ajudando.

── Me passa a chave inglesa. ── murmurou ele, concentrado em concertar um sistema complexo demais para mim.

Fiz a ferramenta flutuar. Depois de três meses como semideusa controlar os metais não era mais um grande problema quanto antes, na verdade, se mostrava até bem simples. As vezes eu nem pensava no que fazia, as coisas aconteciam por puro instinto.

Como quando os anéis nos meus dedos escorriam como líquido e giravam em torno da minha mão nos momentos que ficava agitada, ou quando fiz a cadeira em que Cassian estava sentado flutuar ── primeiro ele gritou de susto, depois ficou repetindo "faz de novo, faz de novo!" o dia inteiro ── bons metros do chão.

E, obviamente, como não sou boba nem nada, tentei repetir o feito comigo em cima da cadeira.

A cena toda acabou comigo na enfermaria, com um tornozelo torcido, um galo na cabeça e um Leo rindo da minha cara enquanto o Doutor Hans Chucrute ── Will Solace ── me dava a maior das broncas médicas na enfermaria.

É, senhoras e senhores, pra quê inimigos quando se namora Leo Valdez?

Falando nele, ele riu de algo ao meu lado, girando nas mãos sujas de óleo a chave irlandesa ── inglesa, dinamarquesa ou seja lá que raios ──.

── Isso é uma chave de grifo. ── devo ter expressado toda a completa confusão em um olhar, porquê ele continuou a explicar: ── essa serve pra hidráulica. A inglesa, aquela lá ── ele apontou a ferramenta na outra mesa, que logo fiz voar até ele. ── É para apertar parafusos e porcas. Entendeu?

── Não, não entendi bulhufas disso. ── na minha cabeça continuavam sendo dois negócios de apertar parafusos. ── Mas é bonitinho ver você falando sério, quase como se eu estivesse numa aula.

Ele pôs a mão sobre o peito, num gesto de falsa indignação que serviu para deixar outra mancha preta extra na camiseta bege toda estrupiada. Deuses protejam o abençoado que tiver a tarefa de lavar as roupas dos filhos de Hefesto, esse sem dúvidas tem vaga garantida no Elisio.

── Tá dizendo que eu nunca falo sério? ── ele cutucou de leve a minha barriga com a dita chave, me fazendo rir pelo contato gelado mesmo sobre a camiseta laranja do acampamento. ── Ah, Berenice! Como é injusta com o seu pobre namoradinho. Assim você me deixa magoado.

Leo fez beicinho, depois sorriu o sorriso de elfo maligno. Percebi as intenções dele tarde demais. Logo ele esticava os dedinhos sujos e os passava na minha bochecha, antes, limpa. Depois, num ato de coragem digna da grifinória, o Bob Construtor Barato saiu correndo para se esconder atrás da mesa.

── Bonito, Valdez, que bonito! ── resmunguei, pegando a caixa com pregos à minha direita.

── É, eu sei. ── ele levantou por poucos segundos, logo se abaixando sob a mesa outra vez para fugir dos pregos voadores lançados na direção dele como mísseis teleguiados. ── Todas as garotas amam o Leo, nem você fica imune ao meu charme irresistível, Tomatinho.

𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓𝐇 𝐂𝐀𝐍𝐃𝐋𝐄 ▪ LEO VALDEZOnde histórias criam vida. Descubra agora