LVIII.

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Eu sei arrumar um
armário,       ajeitar
minha     vida     são
outros  quinhentos.
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Tivemos uma reunião no refeitório ainda naquela noite, onde discutimos o pouco que sabíamos sobre a profecia, a bendita Marca de Atena, o irmão sumido de Hazel, quem diabos poderiam ser os ditos Gêmeos e qual seria a dita "ruína dos gigantes".

Ver a mesa de dez lugares com nove das suas cadeiras ocupadas me trouxe uma daquelas sensações estranhas, como quando saímos de casa e nos perguntamos se não esquecemos o fogão ligado, só para passar o dia inteiro criando paranóias de que no momento que voltarmos ao lugar não haverá nada além de cinzas e vizinhos fofoqueiros observando a explosão de gás.

E eu mesma posso estar sendo paranóica, mas estar com todos os oito semideuses da profecia reunidos ── mais o acréscimo da cabrita de roupas bregas ── me faz pensar que, talvez, nem todos nós vamos conseguir voltar vivos para os acampamentos.

Não importa se você ganha ou perde a batalha, sempre há um preço a ser pago, Verônica. Sempre. Vovó havia dito isso para mim poucos dias atrás, com a expressão de uma sábia milenar que parecia conseguir prever o aperto no peito que sinto agora. Era como se houvesse uma mão pressionanfo meu estômago, forte o suficiente até mesmo para tirar todo o apetite que tinha antes.

Dory percebeu isso, tentando ser discreto ao cutucar o Garoto em Chamas e inicar com a cabeça o prato intocado à minha frente. O loirinho murmurou algo para o amigo, recebendo uma resposta rápida em tom igualmente inaudível para mim.

Não consegui prestar atenção em nada do que eles falavam na reunião improvisada, anotando mentalmente de perguntar depois a Judith sobre o assunto, ou quem sabe ao próprio Jason. Ele era ssmpre a melhor pedida para explicações táticas e tudo mais.

Romano exibido, Ares resmungou, num tom de voz pirracento demais para um deus com milênios de idade.

Após a reunião, todos nós concordamos que seria melhor irmos logo descansar. Tinha sido um dia cheio, afinal. Com a saída do Acampamento Meio-Sangue pela manhã, a chegada turbulenta em Nova Roma e a fuga ainda mais conturbada, além dessa última missão, devo dizer que não restou muito de mim ao fim do dia.

Eu estou, literalmente, só o bagaço da laranja.

Mesmo assim, não consegui pregar os olhos quando cheguei à minha cabine. Me contentei em observar as figuras de estrelinhas e pequenos planetas que o abajur formava no teto, perdendo a conta de quantas vezes contei cada uma dessas figuras.

Irritada por não conseguir dormir e agitada pelo simples fato de que sou uma semideusa e sempre, sempre pareço ter ingerido quantidades absurdas de cafeína, abri o armario onde minhas roupas estão guardadas e resolvi arrumá-los de outras maneiras. Essa era uma mania que absorvi de mamãe, que por sua vez os absorveu de vovó: sempre que fico ansiosa, procuro alguma coisa para arrumar ou contar.

Foi assim que, em menos de duas horas, tinha trocado cada pequena peça de lugar, organizando-as por cores e tecidos, dobrando e estendendo mil vezes cada mísera saia ou blusa. Quando terminei tudo, simplesmente joguei os cabides outra vez sobre a cama e comecei do zero o trabalho. Agradeci o fato de que Hazel tinha, literalmente, fugido do acampamento Romano com apenas a roupa do corpo e que emprestei uma boa quantidade delas para a garota.

Embora a garota tenha seus treze anos, Hazel e eu temos quase o mesmo tamanho, confesso. Na verdade ela tem bons dois centímetros a mais, mas não acho que isso venha ao caso...

𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓𝐇 𝐂𝐀𝐍𝐃𝐋𝐄 ▪ LEO VALDEZOnde histórias criam vida. Descubra agora