XL. Especial de Natal

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Papai noel sabe que os
duendes dele fugiram?
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Ou

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A    convenção   dos
elfos piromaniacos
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Se existe algo mais contraditório que os filhos dos deuses gregos comemorarem o feriado criado para celebrar o nascimento da divindade de outra religião, eu desconheço.

Quem diria, não?

Não estou reclamando, longe de mim ── ouvi falar sobre uma suposta ceia diferenciada ──. Adoro o natal, sempre adorei. Desde pequenininha essa época do ano respresentava uma coisa: as festas na casa dos Beauregard.

Eu encontrava primos distantes, via meus tios ── a parte ruim era aturar tia Victória, mas com a barriga cheia de comida o humor maligno dela poderia ser ignorado. ──, matava a saudades dos meus avós paternos ── ambos infinitamente mais calmos que vovó Eisen ── e comia até estourar o zíper na calça.

Além disso, papai, mamãe e eu víamos As Branquelas pela milionésima vez, com direito a cantar Thousand Miles junto com Latrell.

É meu feriado favorito, confesso, mas quem não gosta de uma época do ano onde temos: neve, comida, presentes e férias escolares? Não confio nadinha em pessoas que dizem odiar o natal.

Meus adoráveis ── sarcasmo ── irmãozinhos também parecem mais alegres e calmos hoje, se é que isso possa ser possível. Os gritos diminuiram bastante, as brigas também e o rock costumeiro tocando no rádio foi trocado por uma versão metal de Jingle Bell. Como diria o sábio: até os brutos amam.

Nesse caso a frase seria algo como "até os brutos comemoram o natal."

A Pulga Saltitante ── novo apelido de Cassian, porquê... bem, ele passa o dia inteiro pulando como um idiotinha ── como sempre estava saltitando no chalé, abrindo os presentes enviados pela sua família. Isso estava incluso na lista de melhores coisas do natal no acampamento: o cara com muitos e muitos olhos do qual nunca lembro o nome vai até o correio mais próximo buscar os presentes, quase como um papai-noel estranho.

E, mais uma vez, meus pais estrapolaram. Depois de contar sobre o nosso cruzeiro ── foi a melhor forma de nomear a missão mortal sem fazer os velhos infartarem ──, os dois resolveram mandar tudo que podiam para "deixar nossa Roniquinha bem". Com isso eles falam de cópias das fotos em família ── entre elas uma foto de bebê minha, onde meus pais acharam que seria uma idéia incrível me vestir de rena no natal ── , uma imensidão de casacos grossos o suficiente para um esquimó ── eu tentei avisar que sairiamos no verão, porém os dois ignoraram isso ── e outras quinquilharias as quais eles achavam ser necessárias.

Obviamente vou levar elas, porque isso é quase como negar o guarda-chuvas. O dia pode estar lindo, o sol radiante e tudo mais, se sua mãe disser que vai chover, é porque vai chover. E aí de você se for burro o suficiente para esquecer a bendita sombrinha! Pode apostar que o mundo vai desabar em água.

Voltando ao momento oportuno, estava esperando a hora em que o beliche iria cair na minha cabeça por causa dos pulos incessantes da criaturinha acéfala. O colchão fazia barulho, a estrutura rangia e poeira caia em cima de mim, não restou muita coisa a fazer, a não ser levantar e procurar algo para fazer.

Irmãos mais novos são um porre, preferia ter um poodle.

Judy estava, obviamente, sentada na varanda mastigando alguma coisas geralmente considerada como "lixo". Resmunguei ao perceber que nem numa data comemorativa ela trocava as roupas velhas e esfarrapadas dela. As mangas do moletom eram bons dez centímetros maiores que os braços dela, e pensei seriamente em usá-los para criar uma camisa de força capaz de prender a sátiro.

𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓𝐇 𝐂𝐀𝐍𝐃𝐋𝐄 ▪ LEO VALDEZOnde histórias criam vida. Descubra agora